Criando um diálogo entre My Bloody Valentine e Sonic Youth, “quatro jovens com amor pelo pop ruidoso” – como os próprios se apresentam em nosso papo – vão fazendo de Lima, no Peru, a capital de uma nova cena de noise pop na América Latina, caminhando pela mesma linha que outros conterrâneos como Eva & John. Esta é a Serto Mercurio.
“Fazemos pop ruidoso, ou noise pop se preferirem. Se bem que não nos limitamos a isso”, aponta Emiliano, um dos quatro integrantes da banda, que leva na bagagem um disco de 2015, o saudosista Recuerdos de Cuando Aprendí a Nadar. “[No disco] estão os elementos digeríveis e pegajosos do pop, mas também ondas de distorção e demais efeitos”, explica. Surgido em agosto de 2014, Alonso Bronto, Emiliano e Piero fizeram do grupo a união de elementos saudosistas, em que composições com uma forte carga melancólica são notadas a partir de suas letras e arranjos.
Escutar Recuerdos de Cuando Aprendí a Nadar transmite uma energia e uma maturidade sonora, rara por se tratar de músicos tão jovens. “Nutrimos [referências] de artistas muito diferentes e variados. Nomear somente alguns seria injusto”, afirma o quarteto, que traz do shoegaze, post-punk e dream pop elementos que se unem para criar a própria identidade sonora da Serto Mercúrio.
De The Cure a The Jesus and Mary Chain, de Electro-Z a Voz Propia; não há limites por onde a banda pretende caminhar. “Isso resultou em um compêndio de muitas coisas: ansiedade, impotência, desenraizamento e tristeza”. É assim que Emiliano e o grupo enxergam os resultados de seu primeiro álbum. “Em primeiro lugar, queríamos que nossa música começasse a se difundir. Queríamos ser escutados o quanto antes, porque pensávamos que soávamos diferente à maioria dos grupos da cidade”.
Gravar o disco foi difícil para os quatro músicos de Lima, em especial pela ausência de uma indústria musical consolidada no país. “É tudo muito improvisado”, contam. “Não quero dizer que é uma luta, já que nenhum de nós planeja viver realmente da banda. No entanto, a maior parte do tempo, lutamos com a decepção ou a impotência de sentir que nada do que fazemos é valorizado”.
De The Cure a The Jesus and Mary Chain, de Electro-Z a Voz Propia; não há limites por onde a banda pretende caminhar.
Mesmo com todos os percalços – e a certeza de que anos atrás o disco talvez nem viesse à tona -, os músicos se veem satisfeitos e com sorte pela possibilidade de espalhar sua música para outros lugares, ainda que acreditem que isso não lhes garanta fama, por exemplo. “Sentimos que muita gente não nos conhece. Somos um grupo super pequeno”.
Admiradores de grupos como Novos Baianos, Os Mutantes, além de ícones como Gal Costa e Tim Maia, é Criolo quem tem feito presença constante nos fones de ouvido dos músicos. “A internet é uma grande aliada”, comenta Emiliano, que sente, ainda assim, que a possibilidade de trânsito cultural não seja uma via de mão dupla. “À América Latina chegam grupos norte-americanos e ingleses em demasia, enquanto poucos sul-americanos obtêm notoriedade”.
Pensando nisso, peço que eles nos apresentem a cena peruana com indicações de grupos que devemos escutar. “Como retrato do momento a Varsovia, Mundaka, Gomas, Liquidarlo Celuloide, La Mente, Mi Puga Mi Pishgo, Juan Gris, Los Lagartos, Paisaje 3, The Terrorist Collective, Orquídea, Millones de Colores, Ale Hop, Submarino… e um imenso etcétera”.
Desta forma me despedi do grupo, que dá um tempo nos shows a partir deste mês para a gravação de seu próximo disco. Que seja breve.
NO RADAR | Serto Mercurio
Onde: Lima, Peru.
Quando: 2014
Contatos: Facebook | SoundCloud | Bandcamp | YouTube | Instagram
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