Se existe uma banda que encapsula a pura energia anárquica do punk sem parecer uma cópia datada do passado, é a Amyl and the Sniffers. Formado em Melbourne, Austrália, em 2016, o quarteto composto pela carismática vocalista Amy Taylor, Declan Mehrtens (guitarra), Gus Romer (baixo) e Bryce Wilson (bateria) vem ao Brasil pela primeira vez para uma turnê que passará por Belo Horizonte, São Paulo (onde faz dois shows, um deles solo) e Curitiba.
Amy é uma tempestade humana, que traz, além do espírito DIY dos anos 1970, a ferocidade de um pitbull sem coleira. A banda é absurdamente barulhenta no palco, entregando faixas que raramente passam dos três minutos e parecem prestes a desmoronar a qualquer instante.
O nome do quarteto é uma referência à gíria australiana “amyl”, utilizada para o nitrito de amila (amyl nitrite, em inglês), popularmente conhecido como “a droga do amor” (ou poppers), substância que, quando inalada, relaxa a musculatura, intensificando o prazer sexual. De acordo com Taylor, ela reflete a intensidade efêmera e impactante das apresentações da banda. Em entrevista a Paul Glynn, da BBC, disse: “Você cheira, dura 30 segundos e depois você tem uma dor de cabeça – e é isso que somos!”
Ascenção meteórica

O grupo surgiu da maneira mais punk possível: Taylor, ao lado de seus companheiros, gravou o primeiro EP, Giddy Up (2016), em um frenesi de 12 horas. Nele estava a essência do punk setentista, que levou a banda a ser comparada com grupos icônicos como Iggy Pop and the Stooges e The Damned.
Com o sucesso do disco, a Amyl and the Sniffers gravou o EP Big Attraction, lançado em 2017, solidificando sua presença na cena local. O primeiro disco completo, o homônimo Amyl and the Sniffers, chegou em 2019, produzido por Ross Orton (Fat Truckers, Jarvis Cocker). Aclamada pela crítica, a banda rapidamente se preparou para o que viria a seguir.
Comfort to Me chega em 2021, incorporando elementos mais pesados e letras introspectivas. O single “Guided by Angels” exemplifica bem essa evolução, mantendo a energia frenética do grupo, mas agora com refinamento. Produzido por Dan Luscombe (The Drones), o álbum mostrou artistas mais articulados, com faixas como “Security”, que combina um riff colossal com uma Amy Taylor indo da bravata à vulnerabilidade.
Um pequeno furacão
Prestes a tocar no Brasil, com direito a sold out no show do Cine Joia, Amy Taylor vai mostrar que no palco é um show à parte. Pequena em estatura, mas gigantesca em presença, ela gira, salta, corre, berra e faz gestos obscenos como se tivesse sido criada em uma jaula e liberada apenas para descarregar a energia acumulada. Seus vocais rasgados remetem a Poly Styrene Do X-Ray Spex, ou a um Iggy Pop em transe. E, claro, seus mullets – uma assinatura do visual da banda.
O que torna o Amyl and the Sniffers mais do que um revival de um punk outrora vivo é sua autenticidade bruta. Enquanto bandas do gênero caem na armadilha de parecerem uma cópia vintage do CBGB, Amy e companhia carregam uma energia inegavelmente moderna, uma fúria que soa mais atual do que nostálgica. Eles fazem parte de uma tradição australiana de rock barulhento e desordeiro que inclui nomes como Radio Birdman e Cosmic Psychos, mas sua abordagem está encharcada da urgência e inquietação de uma era onde a revolta é um estado de espírito constante.
Em um mundo onde o punk muitas vezes se torna um acessório de moda, Amyl and the Sniffers se destaca como algo que procura ser genuinamente perigoso. A partir de março, os fãs brasileiros terão a oportunidade de vivenciar essa energia de perto. Um convite aberto para o caos – e alguém é louco de recusar?
SERVIÇO | Amyl and the Sniffers no Cine Joia
Onde: Cine Joia (Praça Carlos Gomes, 82 | Liberdade; São Paulo/SP);
Quando: 6 de março de 2025;
Quanto: ingressos esgotados.
Informações podem ser obtidas na plataforma Eventim.
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