Se o punk rock britânico tivesse um currículo formal, The Damned estaria lá como uma das primeiras bandas a fazer quase tudo – e ainda assim, por alguma razão, sempre foi a terceira via no cânone do movimento, uma banda que não cabia direito nem na anarquia dos Sex Pistols, nem no ativismo do The Clash.
Primeiro single punk britânico? “New Rose” (1976). Primeiro álbum completo do gênero? Damned Damned Damned (fevereiro de 1977). Primeira turnê nos Estados Unidos? Novamente eles. E, mesmo assim, a história do punk raramente os concede o mesmo peso mitológico.
Talvez porque, em vez de colapsar sob sua própria ferocidade, como os Pistols, ou crescer para se tornar uma instituição política como os Clash, The Damned simplesmente foram adiante. E, agora, esse caminhar passa, novamente, pelo Brasil, como uma série de três apresentações – uma delas, abrindo para o The Offspring, outras duas (São Paulo, no Cine Joia; e Curitiba) solo.
The Damned: razões para ser imperdível
Quando falamos de The Damned, continuar não significa seguir a cartilha óbvia do punk. Sim, o início foi puro caos. O vocalista Dave Vanian – um ex-coveiro que se vestia como se tivesse saído de um filme expressionista alemão – parecia mais um Nosferatu do que um Johnny Rotten. O guitarrista Brian James era um discípulo das guitarras barulhentas dos Stooges e do MC5. O baterista Rat Scabies tocava como se cada batida fosse a última coisa que faria antes da explosão final da civilização. E Captain Sensible, então baixista, parecia um palhaço psicodélico saído de um pesadelo regado a ácido lisérgico.
Mas a longevidade do grupo se deve a algo que o punk, por definição, não deveria permitir: evolução.
Mas a longevidade do grupo se deve a algo que o punk, por definição, não deveria permitir: evolução. Ainda em 1979, com Machine Gun Etiquette, a banda começou a abrir espaço para melodias mais elaboradas, teclados e uma produção que não soava como uma britadeira furando concreto. Em seguida, abraçaram de vez o pós-punk e o gótico, antecipando o que o Bauhaus e o Sisters of Mercy fariam logo depois.
The Black Album (1980) e Strawberries (1982) são quase barrocos em comparação ao punk cru do começo. E Phantasmagoria (1985), com seu single “Grimly Fiendish”, colocou Vanian no papel de um crooner vampírico – um movimento que, se não fosse por The Damned, talvez Robert Smith nunca tivesse levado tão a sério. O problema – ou quem sabe a graça da banda – é que nunca se mantiveram em um único lugar por tempo suficiente para serem rotulados de modo definitivo.
Em um momento estavam lançando um disco gótico grandioso, no seguinte, Captain Sensible largava tudo para gravar “Happy Talk”, um hit solo totalmente absurdo. Enquanto isso, brigas internas, trocas de formação e retornos caóticos se tornaram norma. Por sorte, eles sobreviveram a tudo: ao fim do punk, à implosão do pós-punk, ao revival dos anos 1990 e ao culto nostálgico dos anos 2000.
Brasil, here we go

O The Damned chega ao Brasil como sempre foram: caóticos, imprevisíveis e, estranhamente, imortais. Talvez nunca tenha recebido o merecido crédito, mas, no fim das contas, talvez isso seja o que os manteve vivos por tanto tempo.
No universo punk, onde a autodestruição é a regra, The Damned sempre pareceu entender algo que os outros não: sobreviver pode ser a mais punk de todas as atitudes.
Além de sua apresentação solo, a banda é uma das (melhores) atrações de abertura da turnê SUPERCHARGED do The Offspring. Ao lado de Sublime, Rise Against, Amyl & the Sniffers e The Warning, o The Damned subirá ao palco com sua formação clássica. Dos imperdíveis do ano.
SERVIÇO | The Damned no Cine Joia
Onde: Cine Joia (Praça Carlos Gomes, 82 | Liberdade; São Paulo/SP);
Quando: 7 de março de 2025;
Quanto: a partir de R$ 145 + taxa de serviço.
Ingressos podem ser adquiridos na plataforma Eventim.
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