Aqueles que mais dizem que a arte não deve ser medida pelo seu próprio gosto são as mesmas pessoas que sobem no pedestal para esbravejar que Sandy e Junior são péssimos. “Arte? Esses dois? Um desperdício.” Não entendem o sucesso de duas pessoas com “músicas tão ruins”. Não entendem porque pessoas pagam ingresso para esse tipo de “lixo musical”.
É complicado mensurar a importância de Sandy e Junior para quem nunca foi impactado pela dupla. É mais do que indústria cultural. É, de fato, meio inexplicável. Por isso, é difícil explicar para quem não gosta, ou enxerga apenas críticas, o que essa turnê comemorativa representa. Se eu fosse apelar para o senso comum, diria apenas que é o poder da nostalgia. Mas é algo maior do que apenas lembranças. É como se, com essa turnê, um ciclo fosse fechado, tanto para a dupla quanto para o público, que nunca digeriu muito bem o crescimento dos dois jovens cantores. Para mim, pessoalmente, é como retornar a um lugar aonde eu nem sabia que precisava tanto voltar.
Em um show impecável na Pedreira Paulo Leminski, em Curitiba, Sandy e Junior estavam diferentes de quando se despediram, em 2007, já que pareciam mais relaxados, confiantes, sem pressão, levando o público nas mão, mas principalmente se deixando levar pelas quase 30 mil pessoas que ali assistiam. A dupla, agora, se permite sentir. E depois de 30 anos de carreira, é lindo ver os olhos de Sandy impressionados com o tamanho do público cantando “Inesquecível” em uníssono. É lindo ver como os dois estão absolutamente surpresos com a proporção que tudo isso tomou. E se para Sandy, que ainda está acostumada a ter seus shows lotados, está sendo uma surpresa, quem brilha mesmo é Junior. O palco é inteiro dele.

Se para Sandy, acostumada a ter seus shows ainda lotados, está sendo uma surpresa, quem brilha mesmo é Junior. O palco é inteiro dele.
Se durante todos os anos de carreira o cantor foi taxado de sombra da irmã, nesta turnê, ele é dono do show. Até a disposição dos dois cantores no palco parece trazer Junior mais à frente. Em “Super-Herói”, Junior canta com segurança enquanto sua irmã, ao lado, olha com orgulho. Em “Libertar”, Junior grita sobre ser livre para se tornar quem ele sonhou. Em “Aprender a Amar”, ele viaja no tempo para lembrar como crescer em meio ao público foi complicado. Em um solo de bateria, nós esquecemos que existe outra pessoa no palco. É hipnotizante.
Nossa história
O grande mérito do show, porém, é conseguir ser intimista mesmo com uma mega-produção. É uma grande celebração de histórias de diferentes fases, tamanhos e significados. Aqueles que se lembram apenas da fase mais infantil da dupla, também podem lembrar de uma vida mais fácil. Aqueles que começaram a curtir Sandy e Junior na fase mais pop, a partir do álbum As Quatro Estacões, podem se lembrar do fenômeno que a dupla foi. Já aqueles que começaram a ouvir após a fase mais adolescente, com o Identidade, carregam lembranças de músicas que faziam todo o sentido para aquele momento da vida.

Por mais que Sandy e Junior não sejam levados muito a sério por boa parte da crítica e de algumas pessoas, o mais enriquecedor dessa turnê é não se importar com o que os outros pensam ou por qual motivo todos estão ali. É absurda a quantidade de pessoas criticando a turnê comemorativa, que não é para eles, é para os fãs. Existiu uma certa fase em que gostar de Sandy e Junior era sinônimo de chacota. Boa parte dessas pessoas, que fingiram não gostar mais, porque era preciso crescer, reprimiram um sentimento, e eu me incluo nesse grupo. Mas a maturidade, que nada tem a ver com gosto musical, permite que críticas e opiniões não mais abalem o que as pessoas realmente querem.
Sandy e Junior entregaram algo que há tempo não víamos no cenário musical. É um fenômeno que nem eles esperavam. É a reunião de milhares de pessoas cheias de saudade, em uma energia que só que esteve lá sentiu. Talvez seja por isso que algumas pessoas estejam tão incomodadas. A alegria alheia incomoda.