Quando estiveram nesta mesma coluna e contavam apenas com um EP e um single recém-lançado, a curitibana Suit & Bones mostrava suas inúmeras influências enquanto esboçava uma sonoridade própria. Passados alguns meses, o grupo lança seu segundo EP, Wasteland. Algo mudou de lá para cá, ao passo que algumas coisas estão intactas. A Suit & Bones volta a contar com a produção de Gustavo Schirmer, mas agora parece mais certa quanto aos rumos que pretende seguir.
Wasteland é um disco recheado de canções pop e radiofônicas, lapidado para uma roupagem mais próxima do que o Kings of Leon fez no início da carreira e tornou a fazer em WALLS (2016). Sob esta perspectiva, o grupo adquire um caráter mais sensual, uma eroticidade soft e um passe verde para as pistas.
O disco abre com a homônima “Wasteland”. Nesta faixa, a mais heterogênea do EP, é possível encontrar também camadas de Bloc Party. A faixa carrega uma soturnidade, um desolamento permanente, atestado pelas estrofes que narram esse eu-lírico analisado a partir da metáfora com uma terra arrasada. Sobra até espaço para um pequeno jogo de palavras com uma das frases mais famosas da trilogia Batman de Christopher Nolan. Se para o diretor a noite é mais escura antes do amanhecer, o grupo curitibano não compartilha desta opinião.
É interessante notar como a banda delineia sua sonoridade e sua personalidade musical, uma maturidade que muitos grupos rodados ainda possuem dificuldade de encontrar.
O tema retorna em “Taste”, uma canção em que a Suit & Bones trata de falar sobre ausência e seu gosto amargo, ou mais precisamente a busca por sentir novamente uma emoção, reviver memórias perdidas com o tempo e os percalços da vida.
“Garden of Glass” é a balada de Wasteland. Cesar Taborda, Will Silva, João Tarran e Pedro Soares (este último substituto de Franzmann na bateria) mergulham no amor, na distância, na fragilidade dos relacionamentos e a necessidade constante do próximo. A canção deixa uma sensação redentora, positiva, ainda que a incerteza do amor correspondido paire no ar.
Com “Like Dreams” o quarteto encerra o EP. Passado, presente e futuro são utilizados para tratar da realidade, contudo, longe de um contexto filosófico. A Suit & Bones está interessada em compreender essa característica humana que preza a cegueira frente aos fatos, e o resultado dessa complacência com o medo de viver o que se sente.
Não há muitas guinadas dos primeiros registros até Wasteland, mas já é interessante notar como a banda delineia sua sonoridade e sua personalidade musical, uma maturidade que muitos grupos rodados ainda possuem dificuldade de encontrar. Ainda por cima, é louvável notar como as referências possíveis de serem captadas são menores, mais enxutas, mesmo que a influência ainda esteja lá. Aliás, influências estão sempre aí, em todos os grupos. O problema costuma ser a falta de originalidade, e para nossa sorte, isto passa bem longe do trabalho da Suit & Bones.