Minha infância foi marcada por um discman, um headphone e inúmeros CDs que eu comprava nas lojas do centro com os trocados que ganhava da minha avó. Esse hábito, que preservo até hoje, certamente veio dos meus pais, que colecionavam vinis quando eram mais jovens, da mesma forma que eu fazia com as pequenas caixinhas.
Mas ao fim dos anos 90 e começo dos anos 2000, eles já me diziam que, comparado ao vinil, o CD era sem graça e eu, jovem ainda, nunca teria o mesmo prazer de comprar um disco de vinil e vislumbrar a maravilha que era o som de uma vitrola. Mas aí, em uma semana, toda aquela previsão foi virada de cabeça para baixo: o vinil não só é hoje um dos artigos mais cobiçados pelos fãs como também representa o dobro do faturamento em vendas em relação aos três gigantes do streaming de música — Spotify, Deezer e VEVO.
Pois nessa mesma semana, a cidade que eu moro acordou com essa nostalgia e eu tendo o pequeno prazer que meus pais tanto anunciavam. Organizada pela casa de shows Asteroid e por várias lojas de discos, Sorocaba ganhou sua versão da tradicional Feira de Discos de São Paulo, que reuniu em pleno domingo crianças, adultos e idosos compartilhando uma mesma paixão: a música no bolachão.

Fui acompanhar de perto a exposição e a venda. Era impressionante ver aqueles pequenos stands cheios de discos e compactos, CDs e livros, colocados em caixas de feira, seguindo a cartilha e as regras do manual da nostalgia.
Era impressionante ver aqueles pequenos stands cheios de discos e compactos, CDs e livros, colocados em caixas de feira, seguindo a cartilha e as regras do manual da nostalgia.
Os discos eram organizados em categorias, gêneros, importados ou seminovos e variavam em preços que iam dos R$ 10 até os R$ 200 (pelo menos o mais caro que eu vi por lá) e com álbuns que eu nunca esperava ver ou achar que existiam. Vi um pessoal também empolgadíssimo fazendo reviews e apresentações de discos raros, assim como crianças pegando pela primeira vez um disco do NOFX e perguntando que tipo de som era aquele. A feira, basicamente, era como uma volta ao tempo em que nossa melhor forma de descobrir um som novo ou legal era enfiando a cara dentro da caixa e contando com a atenção dos vendedores, que sempre se mostraram mais interessados em vender a informação e a paixão pela música que apenas ganhar dinheiro.
Uma das coisas mais lindas que achei por lá foi o vinil Theather of Pain, do Mötley Crüe, um dos primeiros discos que ouvi mesmo na vitrola. Vi também Introducing The Beatles, quase uma b-side do álbum Please Please Me (que herdei dos meus pais), Second Helping, do Lynyrd Skynyrd e Wham!. De fundo, a trilha sonora tocava e você via pessoas que nunca haviam conversado, falando sobre discos e artistas como se fossem grandes amigos há tempos.

Do lado de fora da casa, a Sonzera estacionou uma van cheia de coisas incríveis e algumas vitrolas. E mesmo num espaço apertado, era possível ver vários discos e ainda falar com as pessoas ao lado sobre o que você escolhia ou o que elas procuravam.

É fácil afirmar, depois de ver tudo isso acontecer em um único espaço, que o vinil por si só já virou um espetáculo à parte. Além da sua qualidade sonora, ele representa para os fãs o seu contato mais próximo e direto com o som de verdade que curtem, e ainda promove uma interação incrível entre as pessoas, como se fosse uma troca de figurinhas.
Não é à toa que, quando a Nielsen soltou seu Nielsen Music U.S. Report, ao final de 2015, o vinil apresentou um crescimento de 30% nas vendas, tornando-se responsável por 10% da venda de discos físicos ao redor do planeta (leia mais aqui). Queira ou não, cada vinil tem uma história que os streaming de música não vão poder contar, e, parafraseando meus pais, por melhor que eles sejam, a gente nunca vai ter a mesma sensação de sentar e ouvir uma vitrola em um app de celular.