No início do ano, quando o Years & Years lançou Y & Y EP, o trio londrino já havia dado mostras do que pretendia: mostrar que o synthpop está mais vivo que nunca e flambá-lo com pop e música eletrônica. Pois bem, na última semana Olly Alexander, Mikey Goldsworthy e Emre Tyrkmen entregaram seu aguardado (e completo) disco de lançamento. Communion é, acima de tudo, um ato simbólico de auto-afirmação, e nesse cenário “Foundation”, faixa que abre o disco, é bem representativa.
O Years & Years pega carona em sintetizadores, teclados, beats e samples, construindo um ritmo dançante e contagiante, caindo facilmente no gosto do público amante de disco pop. Communion também apresenta bons elementos do electro indie dos anos 2000, como MGMT, que marcaram época ao revisitar a disco pop das décadas de 1980 e 1990. Olly Alexander, que além de músico é ator, possui uma voz macia e sexy, que garante a cadência sonora do grupo, nos conduzindo pelos ritmos do disco. “Take Shelter”, que já estava presente no EP, ganhou nova roupagem, adquirindo uma camada um tanto latina, buscando influência na cumbia.
“King”, oitava de treze faixas, é a mais dance do disco, e a partir de onde Communion começa a ficar enfadonho, sonolento. Nada disso acontece por conta da sonoridade, afinal, os arranjos (como os teclados e a percussão de “Memo”) são irretocáveis. Mas o grupo arrisca pouco, mantendo-se em uma zona de conforto na qual a experimentação pouco (ou quase nada) frequenta. Os falsetes constantes de Alexander vão, ao longo do álbum, perdendo o efeito encantador.
“O grupo arrisca pouco, mantendo-se em uma zona de conforto na qual a experimentação pouco (ou quase nada) frequenta.”
É inegável que o trabalho do trio inglês é contagiante, alegre e que certamente ganhará inúmeros remixes que infestarão as casas noturnas de todo o mundo. Ainda assim, a sensação deixada após algumas audições é de que o disco é, em algum nível, descartável, como se cada faixa fosse uma lâmina de uma mesma amostra de sangue. Diferentes hemácias, mesmo portador. Artistas que fizeram do synthpop sua casa, como Prince ou mesmo o Hot Chip em seu trabalho mais recente, criaram álbuns nos quais você mergulha e é guiado faixa a faixa por uma história, com começo, meio e fim. Em Why Make Sense?, por exemplo, Alexis Taylor e companhia criam uma narrativa, um roteiro no qual a lógica é dispensável, mas sabemos estar presente.
Particularmente eu esperava mais do Years & Years, em especial por conta do EP e de suas apresentações ao vivo, sempre cheias de carisma e energia, que talvez estejam fazendo falta em Communion. Os músicos ainda têm chão para se recuperarem deste disco que, não chega a ser fraco, mas do qual tinhamos muita expectativa, infelizmente não suprida.