Os caros leitores que costumam atracar por essas bandas merecem um pequeno esclarecimento antes do desenrolar das letras por esse espaço cibernético, admito. De antemão, já aviso que não há, de minha parte, nenhum tipo de preferência ou vontade em reverberar ou comentar a gestão criminosa e absurda do Secretário de Cultura do governo Jair Bolsonaro. No entanto, certas coisas precisam ser denunciadas, explicadas e, principalmente, combatidas, de modo que a certos horrores é impossível fechar os olhos.
A obsessão do atual presidente pela ordem é absurda. Jair Bolsonaro, pouco a pouco, mina as possibilidades e extermina a existência de tudo aquilo que não está de acordo com as suas crenças e à disposição de seu contento. São inúmeras as provas que corroboram a afirmação feita anteriormente. O atual líder da República faz de cada “funcionário” um agente da ordem capaz de censurar, inviabilizar e acabar com qualquer ideia que esteja em desacordo com a sua visão de mundo. Um mundo imundo, podre e sem nexo, diga-se.
Por aqui é preciso falar de cultura, por óbvio. Apesar do abismo ser imenso, vamos nos ater à cultura. O troço começa mal, muito mal, com Henrique Medeiros Pires, e degringolou com o ex-ator Roberto Alvim, conhecido como o Goebbels tupiniquim. Quem não se lembra daquela cruz, daquela música de Wagner ao fundo, sempre estaremos ao lado de Nietszche nessa peleja, e da vergonha que passamos ao assistir o famigerado vídeo… difícil. Depois disso a coisa só piorou: Regina Duarte e seu canto em defesa da ditadura, sucateando a história de uma rainha da televisão, foi um ponto alto na história de nosso desespero. E depois, assim, oferecido como ele só, chegou meio de esgueiro aquele que faz o papel mais indecente de todos: o ator Mário Frias.
Mário Frias demonstra estar alinhado a uma política de extermínio cultural promovida pelo atual governo sobre a qual é impossível criar qualquer reação a não ser a revolta.
Jean Dubuffet, pintor francês anarquista, escreveu certa vez que só poderia compreender o Ministro da Cultura como a polícia da cultura. Se vivesse em terra tupiniquins nesses tempos o gênio rebelde talvez ousasse uma frase ainda mais dura. Não é de hoje que o secretariado relacionado à pasta da Cultura age como um braço armado do estado que oprime, ameaça e encurrala artistas e obras ao seu bel-prazer. Tendo como única linha ideológica o seu “gosto ou não gosto”, chafurdando na espessa lama da censura e da proibição, a polícia da cultura de Jair Bolsonaro promove um desmonte sem precedentes, uma ofensiva aberrante, em defesa dessa cruzada alucinada que visa destruir a estrutura de produção cultural e a captação de recursos que há tempos possibilita a criação e a manutenção do fazer artístico nesse país bomba-relógio.
É triste? Muito, no entanto é preciso que nós, artistas e público, tomemos a frente da trincheira em defesa da liberdade artística e da realização cultural. Enquanto “enquadra” artistas e obras que não agradam ao patrão e defende a “liberdade” de canais como o Terça Livre, Mário Frias demonstra estar alinhado a uma política de extermínio cultural promovida pelo atual governo sobre a qual é impossível criar qualquer reação a não ser a revolta.
A cultura brasileira está a perigo, sabemos disso, mas o endurecimento da política cultural do presidente anuncia um horizonte cinza que, aliado à pandemia e o descaso governamental, parece um xeque-mate que coloca a têmpora de artistas, produtores e técnicos no caminho das balas desvairadas dessa gente sem moral. Resistir é preciso, como é preciso também exigir e pensar meios de financiamento e patrocínio que possam dar, além de dignidade, esperança a uma classe que hoje vive em vias de se extinguir por conta da omissão e da perversidade do governo. Vamos em frente!