O Brasil, que nunca foi de todos, acabou se perdendo na curva e virou terra de ninguém. Jair Bolsonaro e sua horda de lunáticos não param de destruir o pouco que resta de nossa terra e de nossa gente. Tudo vira cinzas no país do capitão, de modo que não podemos nem ao menos juntar os cacos do que fomos um dia. As práticas são as mais antigas possíveis, o que não as torna menos absurdas. Incendeiam o país, manipulam dados e informações, mentem descaradamente, pilham toda a gente brasileira e provam a cada dia o quanto possuem de desonestidade e despreparo. Um horror!
Os tentáculos escorregadios deslizam por todos os lados. As ofensas são dirigidas a todos, cuspidas ao vento, usadas enquanto método de governo assim como a mentira e a estupidez. Não é preciso ser nenhum gênio para perceber que a cultura é incompreensível para um homem como o atual presidente do Brasil. Por isso, e por representar o que há de pior na política e na própria humanidade, Jair Bolsonaro e seus micos amestrados apontaram o dedo e escancararam a bocarra contra os artistas mais uma vez.
O Ministro da Cidadania Osmar Terra, aquele que defende a internação compulsória de usuários de drogas e que duvida da existência da fome em solo nacional, declarou essa semana que o governo pode, e deve, escolher e sugerir os temas das obras que serão contempladas por editais públicos. Isso, meus caros, à luz do dia, em entrevista à repórter da TV Globo. Osmar Terra, que vira e mexe ameaça fechar a Ancine caso não atendam seus caprichos, defendeu o cancelamento de um edital com temática LGBTQ que provocou o pedido de demissão de Henrique Pires, Secretário de Cultura do governo. Henrique ainda acusou Jair Bolsonaro de censura.
Não é preciso ser nenhum gênio para perceber que a cultura é incompreensível para um homem como o atual presidente do Brasil.
É oficial: estamos a perigo. Essa amarga certeza paira no horizonte tupiniquim atualmente feito a negra e densa fumaça que cobre o céu desse país/curral em chamas. Ambas fazem asfixiar, apertam o peito e ardem dentro da gente. Impossível não notar a falta de ar que toma conta de toda a nação. Impossível não notar. Impossível não notar a apatia que se espalha feito peste, contaminando a todos, até o mais vivaz dos brasileiros. Impossível não notar o abismo travestido de futuro, a sordidez disfarçada de desespero, os crimes cometidos em nome da fé, sabe-se lá em quê. Impossível não notar a faca na garganta, a pulsão covarde da jugular, a covardia com a qual tentam nos calar e aniquilar. Impossível não notar tanta desgraça, e não se indignar com tantas injustiças.
Algumas coisas são inegociáveis. Defendê-las em qualquer circunstância, correndo todos os riscos, não é questão de capricho ou teimosia, mas de princípios. Em algumas questões não podemos dar o braço a torcer, mesmo que pra isso seja necessário quebrar o braço daquele que nos contorciona. “Defender o certo, proteger o justo”, assim aprendemos desde sempre, esquecendo-nos de que o certo e o justo de cada um são tão pessoais e secretos quanto uma senha bancária ou uma tara condenável. Mesmo assim, por mais complicado que seja, é preciso dizer: algumas coisas são inegociáveis.
A liberdade, em toda a sua grandiosidade e no mais alto de grau de sua compreensão, é uma dessas coisas. Somos livres? Evidente que não, no entanto precisamos defender a pouca liberdade que nos resta, defender essas migalhas de liberdade que o cotidiano ainda nos permite mesmo que a conta-gotas. Compreender de uma vez, que a liberdade não é de um, mas de cada um. Direito inalienável de todos. Defender, a todo custo, o pouco do pouquíssimo que nos resta.
A mobilização, necessária a toda sociedade nesse momento, é urgente diante da gravidade da coisa. É preciso que artistas se unam, formem uma frente de combate em defesa da liberdade, tão necessária ao fazer artístico quanto a própria vida do homem. Não podemos mais assistir passivamente os abusos cometidos pelo atual governo, que ultrapassa todos os limites e fere todas as leis para conquistar seus objetivos e cumprir o trabalho sujo prometido a seus senhores e patrocinadores. A situação é clara como os crimes dessa gente: ou nos levantamos agora, ou passaremos uma eternidade de joelhos.