A peça Humanismo Selvagem tem uma premissa curiosa. Ela mostra uma família sulista de classe alta que organiza uma festa para celebrar os 100 anos de seu patriarca. Só que, no meio do evento, uma antiga empregada doméstica aparece, o que cria uma tensão entre a família, tendo que se confrontar com o passado criminoso do aniversariante.
O novo espetáculo da companhia curitibana Bife Seco promete provocar incômodo na plateia presente na Caixa Cultural. As referências da trama e da estrutura narrativa são conhecidas: remetem a clássicos modernos de terror criados pela produtora norte-americana A24, como Hereditário e Midsommar, de Ari Aster, e Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, de Daniel Kwan e Daniel Scheinert.
Trata-se de uma tragicomédia montada a partir de um texto vencedor do Prêmio Outras Palavras 2020. Com direção de Dimis, a peça tem no elenco atrizes e atores importantes na dramaturgia paranaense, como Giovana Soar, Ranieri Gonzalez, Flávia Imirene, Sávio Malheiros, Jeff Bastos, Eliane Campelli, Amanda Leal e Val Salles.
Uma história sobre um passado escravista
“A peça é um terror psicológico estilo A24 que escala para níveis cada vez mais absurdos”
Dimi
A primeira versão do texto de Humanismo Selvagem foi elaborado em 2013, e foi lapidado sempre mantendo a essência: mostrar as rachaduras em uma família que construir sua riqueza a partir da escravidão. “Ao longo desses 10 anos, o texto passou por várias versões, porque a discussão sobre esse tema sempre evolui. Mas eu acho que agora ele chegou na sua melhor versão e está pronto para estrear. É um terror psicológico estilo A24 que escala para níveis cada vez mais absurdos, mas também é uma comédia caótica sobre uma família disfuncional. Eu acho que o público vai se identificar muito, mas nem sempre isso vai ser agradável”, explica o diretor Dimis.
O espetáculo busca explorar também questões envolvendo o reflexo do racismo estrutural e dos resquícios da escravidão na sociedade brasileira. “O tema não é fácil de digerir, mas o formato em tragicomédia e as grandes atuações nos possibilitam acessar os mais diversos públicos e prender as pessoas do início ao fim. Mesmo assim, é uma jornada de reações diversas, com identificações positivas e negativas que se alternam o tempo todo. Então temos noção de que nem todo mundo vai gostar”, afirma o ator Sávio Malheiros, que também é produtor no projeto.
Outra atração da peça é a proposta estética maximalista, fazendo referência a ícones fashion e nomes importantes no design nacional. A cenografia e os figurinos são assinados por Leo Gegembauer, que buscou explorar a ideia de uma casa formatada para dar a ideia de ostentação.
A peça ainda é uma celebração aos treze anos da história da Bife Seco com musicais e podcasts. Mais recentemente, eles levaram ao Guaíra O Fantasma de Friedrich – Uma Ópera Punk, que foi um grande sucesso de público. Agora, Humanismo Selvagem chega à Caixa Cultural para dar sequência à proposta ousada da companhia curitibana.
SERVIÇO | Humanismo Selvagem
Onde: Teatro Caixa Cultural (Rua Conselheiro Laurindo, 280 – Centro | Curitiba/PR);
Quando: 21 de setembro a 8 de outubro – de quinta a domingo às 19h;
Quanto: $ 30 (inteira) e R$ 15 (meia entrada);
Classificação: 16 anos.
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