Os últimos meses não foram fáceis para os brasileiros. Submersos numa lama espessa que se espalha feito peste pelo solo nacional, assistimos, impotentes, o avanço do obscurantismo e a coroação da estupidez em todo o país. O governo de Jair Bolsonaro fracassa em todos os sentidos e nos impõe diariamente a incerteza enquanto lei e a vergonha enquanto hábito.
Nesse cenário catastrófico em que vivemos, não é de se espantar que a cultura seja uma das principais vítimas dessa “nova gente brasileira”. Não bastasse o fim do Ministério da Cultura, os cortes de editais e programas de incentivos e as tesouradas orçamentárias, o governo Bolsonaro também se apropriou da censura e da repressão para ideologizar e controlar obras, artistas e produtores. A cruzada contra a liberdade artística é evidente, inegável e ficou ainda mais clara depois da nomeação de Roberto Alvim à diretoria do Centro de Artes Cênicas da Fundação Nacional das Artes (Funarte). Com um discurso tão ignóbil quanto delirante, Alvim é atualmente o grande responsável por realizar o trabalho sujo do governo em relação ao desmonte cultural em curso no país.
Com um discurso tão ignóbil quanto delirante, Alvim é atualmente o grande responsável por realizar o trabalho sujo do governo em relação ao desmonte cultural em curso no país.
Envolvido em mais uma polêmica, o diretor da Funarte estampou cadernos e sites culturais nos últimos dias depois de ofender publicamente a atriz Fernanda Montenegro. Abanando o rabo de acordo com a vontade do senhor, o diretor teatral atacou Fernanda por conta de uma entrevista em que a atriz critica o governo do qual Alvim faz parte. Em resposta grosseira e violenta, manipulando a verdade de acordo com a sua necessidade e anunciando uma guerra cultural que só existe em sua mente paranoica, Alvim, que tem a mania de confundir cristianismo com cretinice, disparou sua metralhadora de ofensas contra Fernanda Montenegro insuflando a turba de asnos que o seguem a fazerem o mesmo.
Ainda que fossem os problemas da cultura no Brasil representados pelas críticas da atriz ao governo de Jair Bolsonaro, é inadimissível que um representante de um órgão de cultura, mais especificamente da área das artes cênicas, a quem compete zelar pelo bom andamento do setor, em um país que insiste em ignorar o segmento como parte integrante da identidade pátria, ofenda artistas que fizeram de sua atuação parte fundamental na construção dessa mesma identidade. Quando divergências fogem ao debate saudável (e baseado em fatos, não em fakes), escancara-se o baixo nível de quem deveria agir como representante de classe e não como integrante de torcida organizada.
É revoltante assistir passivamente a uma situação vexatória dessas. Falta a Roberto Alvim tudo, como também falta tudo ao governo que ele representa. Estamos submetidos a homens pequenos, iludidos com o próprio poder, que atentam contra a cultura nacional em nome de um projeto de país/curral. Não podemos admitir que nossos representantes se portem como garotos mimados que dão chilique à primeira crítica que recebem.
Não podemos mais permitir que homens como Roberto Alvim, e tantos outros que cercam Bolsonaro, continuem a estraçalhar e combater, do alto de seus cargos, tudo aquilo que desaprovam. Não existe liberdade sem cultura, como também não existe cultura sem liberdade, por isso é dever de todos, artistas ou não, combater o avanço da opressão e da censura que esse governo representa.