O inferno são os outros. Não outros iguais a nós, porque esses toleramos. O inferno são os Outros, com caixa alta, “eles”, esses que estão aí atrapalhando tudo.
A grandeza de textos como Huis Clos, ou Entre quatro paredes, peça de 1944 que é provavelmente a mais conhecida de autoria de Jean-Paul Sartre, está em sua universalidade. Vale para todas as épocas, apesar do contexto de guerra em que foi escrito transparecer na vida dos personagens.
![Huis Clos – Revisitando Sartre](http://www.aescotilha.com.br/wp-content/uploads/2017/12/huis-clos.jpg)
Sua frase mais conhecida, “o inferno são os outros”, descreveu bem um momento do pensamento filosófico existencialista, mas também uma realidade humana difícil de contornar – por mais que nos revistamos de ideologias ou religiões que agreguem camadas de verniz de bondade e civilidade.
O conceito negacionista, pessimista, inerente à obra, vale muito para nossa época também, e a montagem em cartaz até 10 de dezembro no Espaço Falec, com direção de Ênio Carvalho, revela isso. Nada soa anacrônico em Huis Clos – Revisitando Sartre.
O texto sagaz fala da dificuldade trazida pelos relacionamentos, especialmente aqueles forçados.
O texto sagaz fala da dificuldade trazida pelos relacionamentos, especialmente aqueles forçados. Garcin (Rafael Camargo), Inês (Christiane de Macedo) e Estelle (Pagu Leal) vivem três mortos que se surpreendem ao chegar ao inferno, composto por um quarto com três poltronas em que o grupo deve conviver. Um criado (Bruno Rodrigues) traz informações esporádicas, funcionando mais como um lembrete da situação de aprisionamento eterno.
As alianças entre eles, dois a dois, fracassam, até perceberem requintes de crueldade na escolha dos colegas de quarto. O genial é a escolha por três personagens, e não meramente dois opostos que brigassem pela eternidade afora.
![Huis Clos – Revisitando Sartre](http://www.aescotilha.com.br/wp-content/uploads/2017/12/huis-clos3.jpg)
Como espetáculo, [highlight color=”yellow”]a encenação tem seu grande trunfo na escolha de elenco[/highlight], que traz três nomes dos mais experientes em Curitiba, com a sintonia necessária para uma peça tão calcada no diálogo e nas reações a ele.
Na adaptação textual de Ênio Carvalho, o Criado, que se senta na plateia, reagindo ao diálogo no palco, nos traz também informações a respeito de Sartre.
Os círculos em preto e branco do cenário (Paulo Vinícius) podem fazer pensar no tudo e no nada, essas categorias que remetem à obra do filósofo francês, mas o melhor é deixar de lado a pretensão em entender algo e tentar imergir na proposta. Nesse ping-pong da conversa a três que reúne tipos e medos (da covardia, da solidão, de si mesmo) comuns a qualquer tempo e lugar.
SERVIÇO | Huis Clos – Revisitando Sartre
Onde: Espaço Cultural Falec | R. Mateus Leme, 990, Curitiba;
Quando: Até 10 de dezembro, de quarta a domingo, às 20h;
Quanto: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia) | disponíveis pelo site ou uma hora antes de cada apresentação, no próprio teatro.
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FICHA TÉCNICA
Direção: Ênio Carvalho;
Adaptação: Ênio Carvalho;
Produção: Dimas Bueno;
Elenco: Rafael Camargo (Garcin), Christiane de Macedo (Inês), Pagu Leal (Estelle) e Bruno Rodrigues (O Criado);
Figurino e Cenografia: Paulo Vinicius;
Iluminação: Nadia Luciani;
Assistência de Iluminação: Rafael Araujo;
Sonoplastia: Chico Nogueira;
Operação de sonoplastia: Matheus Martini e Thiozer Nunes.
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