Se há um slogan capaz de traduzir a gestão incompetente e colérica do atual secretario especial de Cultura do governo Jair Bolsonaro, Mario Frias, sendo absolutamente generoso na adjetivação, esse slogan é o seguinte: uma taurus na cintura e nenhuma ideia na cabeça. Isso porque informação publicada nessa pelo jornal Folha de São Paulo, e confirmada por diversos veículos de comunicação, aponta que Frias anda armado pelos corredores por onde despacha, intimidando aos berros funcionários, agindo através da violência e da grosseria.
Apesar de absurda, e porque não dizer criminosa, seria um tanto ingênuo dizer que a situação descrita causou algum tipo de surpresa àqueles que acompanham de perto o “trabalho” do secretário. Se falta a ele o prestígio artístico de que gozava Roberto Alvim ou o carisma atirado no lixo por Regina Duarte, seus antecessores no cargo que, justiça seja feita, também foram terríveis e violentos em suas gestões, sobra ao atual secretário alinhamento ideológico com seus senhores e, por consequência, estupidez.
Como um bom cão de guarda, Mario Frias censura, ataca, violenta e sucateia não só os artistas, mas a própria cultura nacional. Não é preciso dizer que onde sobra violência falta empatia, bom senso e, principalmente, massa cinzenta. No entanto, sabemos que o buraco é sempre mais embaixo, de modo que a postura abjeta de Frias representa apenas mais uma das inúmeras investidas do atual governo que tem como intuito calar, na base da força e da repressão, a potência de transformação e resistência que reside na criação artística.
Mario Frias faz de sua pasta um braço armado da paródia bolsonarista que trava uma guerrilha cultural cujo o objetivo claro é “catequizar” ou agradar a pequena claque que ainda apoia o genocídio em curso no país e seus responsáveis.
O incapaz secretário, que há dias causou constrangimento à nação ao declarar em Veneza, numa exposição em homenagem à gigantesca arquiteta Lina Bo Bardi, que desconhecia o legado da homenageada, parece não se importar com sua falta de cultura, apesar do cargo que ocupa, desde que possa se sentir à vontade para, como o presidente que defende, desfilar em praça pública toda a sua pequenez travestida de ódio; sempre amparado por um coturno e pelo cano de sua nove milímetros, por óbvio.
O que talvez cause algum estranhamento, e por certo muito desânimo, é o fato de que a repercussão do absurdo não gerou lá grandes incômodos na classe, jogada às traças e à própria sorte desde o início da pandemia do Covid-19, para não dizer desde sempre. Relinchando sua insensatez, usando termos como “extrema-esquerda” ou “doutrinação comunista nas artes”, Mario Frias faz de sua pasta um braço armado da paródia bolsonarista que trava uma guerrilha cultural cujo o objetivo claro é “catequizar” ou agradar a pequena claque que ainda apoia o genocídio em curso no país e seus responsáveis. Lutar contra Frias e seus asseclas, contra seus senhores e patrocinadores, é pelejar pela existência da liberdade e do direto inegociável de compreender e espelhar o mundo através da arte, do conhecimento e da paixão.
Lembrando por aqui da belíssima canção de Nelson Sargento, mais um entre tantos brasileiros que tombou diante da pandemia que o governo Bolsonaro insiste em minimizar, e pedindo permissão ao gênio para uma pequena licença poética, digo sem pestanejar dirigindo-me ao minúsculo secretário: a cultura brasileira pode até agonizar, mas nunca há de morrer, ainda mais por mãos tão insignificantes que insistem em lustrar canos de ferro, carregar colderes e contar mortos ao invés de acreditar na beleza, na força e na liberdade.
Como diria o poeta: “eles passarão, eu passarinho”. Sempre a voar, avoando, em direção ao infinito. Venceremos!