O espetáculo Master Class (de Terrence McNally), com direção de José Possi Neto, fez temporada em Curitiba nos dias 16, 17 e 18 de março no Teatro Fernanda Montenegro. A montagem estreou em 2015 e segue em cartaz desde então com temporadas no Rio de Janeiro e São Paulo, em 2015 e 2016, além da turnê nacional em 2018, que passa por 13 cidades.
Trata-se uma nova montagem do espetáculo original da Broadway. No mundo inteiro, já foi apresentado em diversos países, como Japão, Itália, Espanha, Portugal, Grécia, Alemanha, Inglaterra e França. No Brasil, a primeira montagem foi realizada em 1996, com tradução de Millôr Fernandes e direção de Jorge Takla, tendo Marília Pêra como protagonista.
A produção conta de maneira divertida a história da cantora lírica Maria Callas, agora interpretada por Christiane Torloni. O enredo apresenta Callas mais velha e afastada dos palcos, lecionando aulas magnas na renomada Julliard School. Misturando biografia com ficção, McNally constrói uma Callas sarcástica, inteligentíssima, apaixonada pela música e um tanto quanto arrogante, que ao interagir com seus três alunos (interpretados por Fred Silveira, Julianne Daud e Paula Capovilla) se recorda de sua carreira e se mostra sensível e humana.
Misturando biografia com ficção, McNally constrói uma Callas sarcástica, inteligentíssima, apaixonada pela música e um tanto quanto arrogante.
Entre as aulas apresentam-se os dramas reais de Maria Callas: o romance frustrado com o bilionário Aristoteles Onassis, a perda de seu alcance vocal, a relação com seu primeiro marido e empresário. Nesses momentos de fragilidade, vê-se Christiane Torloni performando solo e passeando com facilidade entre os diferentes personagens da vida de Callas, alterando rapidamente diversas construções vocais e corporais.
O cenário de Renato Theobaldo se resume a uma mesa, um banco, um piano, assento para o pianista e uma grande estrutura vazada de tecido branco. Bastante semelhante ao cenário da primeira montagem brasileira, porém mais moderno. A estrutura branca de tecido auxilia a criar lirismo com apoio da luz e das projeções em determinadas cenas, no entanto atrapalha a visão do público sobre outras projeções (possivelmente a posição do projetor posterior ao cenário contribua para tanto).
Algumas das projeções (vídeos originais de Callas, por exemplo) são dispensáveis por não poderem ser vistas em sua íntegra ou aproveitadas pelo público. O espetáculo por si só e a competência artística dos atores dão conta de criar a atmosfera necessária e transmitir a história de Callas com a emoção que se pede, portanto determinados recursos podem mais atrapalhar na poética do que ajudar.
Antes do início do espetáculo, apresenta-se um vídeo com um breve resumo sobre a vida da biografada. O vídeo apenas introduz de maneira repetitiva ao espectador àquilo que já se apresenta no espetáculo: a história de Callas. Artisticamente, o espetáculo e o texto são competentes ao apresentar em detalhes a vida de Maria Callas, ainda de maneira mais sensível, profunda e bela, tornando o pequeno documentário introdutório dispensável.
Os figurinos (de Fábio Namatame & Claudeteedeca) são bastante realistas, bonitos e coerentes, bem como toda a caracterização. A sonoplastia (assinada por André Luis Omote) mistura gravações de Callas com trechos de peças de compositores como Bellini, Puccini e Verdi, executadas no piano ao vivo por Thiago Rodrigues e interpretadas pelos atores/cantores. A tradução é de Bianca Tadini e Luciano Andrey. A iluminação (de Wagner Freire) auxilia na poética das cenas, especialmente nas cenas solo de Torloni e nas cenas de interpretação das músicas.