“Criar a sua observação, as suas ideias em dialogo com o processo de produção. Cartografar pistas e meter a mão na massa”. Essas são apenas algumas das obrigações que o Encenador deve ter para se ter uma ideia sobre sua obra em criação. A cartografia é um meio de se chegar a um excelente resultado de nossas produções artísticas. Ela vem como um suporte que materializa nossas ideias diante de cada percepção que vem no andamento da criação de nossas obras.
Cartografar é ter um objetivo, uma noção para onde se está indo. Vamos juntando as partes e todas as possibilidades que possam contribuir no processo criativo. Abrimos caminhos a partir das nossas ligações com o pensamento, tudo o que colocamos contribui em pequenos detalhes na elaboração da obra que gera um sentido.
O processo cartográfico parte de uma sugestão aberta para qualquer lugar, onde o percurso será mapeado a partir do que surge durante o caminho da criação do espetáculo que encenamos. Os detalhes que contribuírem com o todo serão observados rigorosamente, onde a sensibilidade do artista tocar, comparados com outras partes que vão compor a cena. No processo é preciso ter autonomia, quebrar a forma de entendimento do que parece ser óbvio.
Deve-se buscar através das inquietações uma captação do novo sentido das ideias, trocar dúvidas por afirmações e fazer suscitar todas as palavras verdadeiras que gerarem questionamento. O encenador deve perceber o sentimento que surge através das leituras, rabiscar as ideias que modifique o plano do personagem e sobrevoar em busca dos entendimentos.
O encenador deve criar pistas, rabiscar o plano cenográfico, desenhar o que se imagina, buscar as ideias no infinito e num léxico de possibilidades que surgirem durante os ensaios.
Cartografar nossos processos de trabalhos é dar andamento ao que surge em nossos pensamentos, é dar sentido a uma pequena parte observada e destacar a qualidade dela numa encenação, mostrando por de trás do texto outra mensagem que o ator possa trabalhar. O encenador deve criar pistas, rabiscar o plano cenográfico, desenhar o que se imagina, buscar as ideias no infinito e num léxico de possibilidades que surgirem durante os ensaios. Ele deve compor uma memória para as transformações do processo em andamento, mudando o texto por um mapa que crie movimento no espetáculo e investigar a composição da cena em meio à representação.
Para Virginia Kastrup, em Pista do método da cartografia: pesquisa-intervenção e produção de subjetividade (Editora Sulina, 2009), a ideia da cartografia é um método a ser experimentado que ajudará o encenador a montar seu espetáculo por meio de pistas, “as pistas que guiam o cartógrafo são como referências que ocorrem para a manutenção de uma atitude de abertura ao que vai se produzindo e de calibragem do caminhar no próprio percurso da pesquisa.” (KASTRUP, 2009).
O encenador precisa descrever o processo de criação e dialogar com a obra do autor, relacionando uma leitura com suas próprias visões e perceber o que chega para assim poder trabalhar. Seu olhar é aberto e sem foco. Mesmo sem saber o que pode acontecer, a atenção deve se ater a receber o que complementa o processo, criando pistas e ligando-as ao conjunto da cena. É na sala de ensaio que todos os envolvidos no processo apresentam suas observações das pistas e absolvição do espetáculo a ser montado. A cartografia artística é um grande olhar sobre a encenação, uma observação bem detalhada do diretor durante o processo da criação teatral.
No teatro, a criação dá sentido ao que imaginamos através do olhar cênico das possibilidades que surgem no processo, ela busca mostrar os detalhes invisíveis de nossas percepções, é um ofício entregue ao artista. As ideias transbordam, é preciso destacar e cartografar a sutileza de cada proposta apresentada, desconstruir o caminho fácil e não se perder em meio ao caos cartografado. O trabalho do encenador deve apresentar uma leitura de movimento da obra em todo o espetáculo, articulando com o espaço infinito entre cenário, atores e plateia, ligados pela obra a qual estão inseridos.