Apresentar um objeto nem sempre é fácil, é preciso ficar de cabeça pra baixo para exemplificar o potencial dele, rever as camadas que o envolvem e perceber sua dilatação num grande zoom. Buscar o sentido do objeto parte de como ele nos toca, mudando nossa ideia em relação à sua presença. O olhar diante do objeto precisa ser desarmado, interpretando outros sentidos diante da forma que está diante de nós, relacionando com o jogo que a cena pede na composição de palco.
O processo de pesquisa do objeto em cena desbrava o raciocínio, são vários símbolos, formas que remam contra o real, a clara visão de um entendimento amplo da percepção do que assistirmos. O olhar transfigurado traz o que o cérebro não codifica, mas sim o que o coração sente, mostrando outro olhar que pode rever o primeiro olhar. A ideia poética criativa explana sobre a compreensão de um olhar ainda não visto; daquilo que criamos com vários sentidos de interpretações de mundo. O objeto de cena é a extensão da comunicação de nossa imaginação, ele por si só fala do contexto que apresentamos em nossa criação.
O objeto mostra uma leitura que vigora na potencialidade do não existente, do diferente que representa uma mensagem de algo que não existe; da compreensão que nos conduz ao mesmo sentido do essencial escondido. O objeto conversa com o ator em cena, a interação cresce e o corpo vai junto com a obra gerando múltiplas formas do objeto. O objeto é a matéria que necessitamos para estarmos a 180 graus do nosso ponto. É sempre em contato com ele que crescemos em nossa representação artística no palco. A transfiguração do objeto apresenta uma ideia que o ator por muitas vezes não interpreta; ela cobre o vago pensamento da cena.
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Ao colocar o objeto em cena, temos que ter ideia de sua posição diante da composição do espetáculo. Deixando o objeto falar por si só em sua representação. Sua forma é a claridade das observações de tudo que circula de acordo com a lei natural da vida. O objeto precisa dialogar com a cena, buscando dizer o que o ator pensa, podendo mudar a ideia de sua apresentação. O objeto de cena é tudo menos o que ele apresenta ser enquanto objeto real.
As informações do objeto em cena deve contribuir para a evolução da linguagem cênica diante de seu formato de interpretação.
O artista precisa compor diante do objeto uma segunda camada, mostrando um processo ininterrupto de sentidos de sua forma. A criação vai além de sua imaginação, o objeto pode ser qualquer coisa, podendo até substituir a personagem se o caso necessitar. O teatro permite a recriação de todas as formas, mostrando o absurdo do que queremos dizer enquanto artistas. Nosso olhar não concorda sempre com a mesma forma apresentada, é preciso se adaptar com o novo. O grau de conhecimento da forma é infinito. As informações do objeto em cena deve contribuir para a evolução da linguagem cênica diante de seu formato de interpretação, mostrando outros olhares de uma criação lógica de sentidos.
No campo teatral, o objeto deve partir sempre do que nos toca, da poesia movente da ferramenta do conhecimento. É através do que se busca, do que se apresenta diante da gente e da condução artística que chegamos ao objetivo. É preciso se apossar do objeto e multiplicar outros sentidos. Receber os efeitos positivos e negativos para demarcar território do seu sentido, evoluir no objetivo da criação e formação de pensamento. Todos os códigos irão refletir no acontecimento da apresentação para a reprodução de símbolos, imagens e de um novo campo que cresce de acordo com as coordenadas do processo. O artista deve buscar sempre conhecer a linha que caminha dentro de si, do que se percebe. Dos efeitos que a obra causa ao produzir outros conteúdos em relação ao entendimento.