Começou na última segunda-feira, 27, a sabatina do Jornal Nacional com os principais candidatos à Presidência da República. A escolha se deu, segundo o âncora William Bonner, baseada nos melhores colocados de acordo com a última pesquisa Datafolha de intenção de votos. A exceção ficou por conta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que não pode dar entrevistas por determinação da Justiça – Lula está preso em Curitiba, condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Por meio de sorteio, a ordem de entrevistas durante a semana foi: Ciro Gomes, Jair Bolsonaro, Geraldo Alckmin e, finalizando na quinta-feira, Marina Silva.
Essa prática já é comum no telejornal nos anos eleitorais, mas nesse ano novas características foram agregadas às entrevistas.
Em um primeiro momento, destaca-se a mudança no próprio cenário. Em 2010 e 2014, por exemplo, o local utilizado para a realização das entrevistas era a própria bancada, na qual os jornalistas apresentam o telejornal. O candidato, por sua vez, se posicionava na lateral. Nesse ano, uma mesa se encontra disposta no centro, na qual os apresentadores se posicionam de frente para o candidato. Essa nova disposição deu origem a uma entrevista “cara a cara”, contribuindo para a construção dos confrontos.
Para esse ano, o telejornal não só apropriou de fato a ideia como a reforçou com tamanha veemência, a ponto de levarem ao protagonismo os próprios apresentadores.
Se o novo cenário já denotava esse ar, as atitudes de Renata Vasconcellos e William Bonner compuseram a cena e corroboraram para essa ideia de embate. Nas entrevistas para as eleições de 2014, o tom da bancada, na época composta por Bonner e Patrícia Poeta, já era ácido. Como ressaltado pelo jornalista na primeira entrevista de 2014, que foi realizada com o senador Aécio Neves, o objetivo era abordar temas polêmicos das candidaturas e confrontar os candidatos com o que fizeram na ocupação de cargos públicos. Para esse ano, o telejornal não só apropriou de fato a ideia como a reforçou com tamanha veemência, a ponto de levarem ao protagonismo os próprios apresentadores.
O uso por parte dos jornalistas de boa parte do tempo foi um primeiro passo ao protagonismo. As perguntas longas e as inúmeras interrupções controlaram longos minutos destinados à manifestação dos candidatos. O presidenciável Ciro Gomes, em um determinado momento da sabatina, chegou a se irritar com Renata. Ao ser contestado inúmeras vezes em um mesmo tema e sem conseguir se expressar devido as interrupções, Ciro disse: “Se você deixar eu falar…”.
Os candidatos encontraram um grande desafio para elaborarem uma defesa. Digo “defesa” pois, além de envolverem temas e atitudes polêmicas, os questionamentos foram feitos em tons de ataque. Se estabeleceu uma espécie de debate, que, em diversos momentos, foi muito mais intenso do que os próprios debates realizados entre os candidatos.
As entrevistas cumpriram o papel a que se propunham: confrontar os candidatos e abordar temas de difíceis argumentação por parte dos presidenciáveis. Com isso, as fragilidades e o despreparo de alguns foram expostos com os duros questionamentos.
Faltou uma dosagem por parte dos jornalistas com relação ao tempo gasto nas interrupções e no ímpeto de atacar o calcanhar de Aquiles de cada candidato e de desconcertá-los. A oportunidade da defesa não foi, em boa parte das entrevistas, dada ou concluída. As questões, de um modo geral, foram boas e oportunas, mas a postura e as atitudes dos apresentadores foram exageradas, visaram a espetacularização. Assim, a série de entrevistas com os candidatos à Presidência da República poderia se chamar “De Frente com Bonner e Renata”.