Com o começo do novo governo federal, o Brasil começou a adentrar em um período de retomada dos investimentos em cultura. E uma boa notícia é que a série de TV Contracapa, totalmente produzida no Paraná, ganhou um edital para concretizar sua segunda temporada.
A série, que foi produzida originalmente em 2017, se passa dentro de um jornal fictício, a Gazeta Brasileira, e busca mostrar o processo de produção de notícias em uma redação e como isto pode se misturar com os interesses políticos. Lançada em 2019, Contracapa foi exibida na TV Brasil, na TV Cultura, na AXN, e está disponível para assinantes no Prime Video.
O projeto da segunda temporada de Contracapa está entre as propostas selecionadas por uma chamada pública do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), fundo de investimento do banco BRDE. Idealizada por Rafael Waltrick e dirigida por Guto Pasko, com produção de Guto Pasko e Andréia Kaláboa, a série foi concretizada pela GP7 Cinema, sediada em Curitiba, em parceria com o canal Prime Box Brazil.
A nova temporada deverá ter 10 episódios que inicialmente serão veiculados na TV a cabo, no Prime Box Brazil, e também na plataforma VOD do Grupo Box Brazil, mas há a intenção de que ela seja licenciada para outros serviços de streaming.
‘Contracapa’: expectativas para a segunda temporada
Contracapa acompanha uma equipe de jornalistas que trabalham em apurações sobre esquemas de corrupção e escândalos políticos, ao mesmo tempo que vivenciam a rotina típica da profissão. Na primeira temporada, os repórteres e editores se viam em frente à crise financeira, o que levou à demissão de vários deles e uma migração de boa parte do trabalho para o online.
Muitas cenas de Contracapa se passam em locações conhecidas em Curitiba, como o Passeio Público e o bar BarBaran.
Em meio a este cenário, os repórteres da Gazeta Brasileira estão em voltas de um esquema de chantagem e extorsão contra políticos locais, o que pode ter relação com as próximas disputas eleitorais. Aos poucos, eles vão descobrindo que há a participação de policiais e do próprio jornal dentro desse esquema.
A segunda temporada deve seguir mostrando uma empresa em crise, e tendo que lidar com as exigências do jornalismo digital, como a busca por cliques. O jornal deixa de ter sua versão impressa e os profissionais passam a ter que lidar com a transição para uma outra forma de atuação no jornalismo. Além disso, há também jornalismo investigativo: os repórteres estão desvendando uma suposta “máfia dos transportes”, envolvendo o favorecimento de empresas de transporte público em licitações públicas.
Os desafios agora são outros, como a explosão do fenômeno das fake news e a concorrência com outros veículos jornalísticos. A ideia é que a nova temporada retome exatamente onde a primeira terminou, dando sequência às histórias que já foram desenvolvidas.
Tensão em uma série sobre jornalismo
Rafael Waltrick – idealizador e roteirista-chefe da série – é também jornalista, e tirou parte da inspiração para Contracapa de sua vivência na profissão. Por dez anos, ele atuou em redações de jornais diários, com passagens pelo Grupo RBS e Grupo GRPCOM.
Ele conta que a ideia, desde a primeira temporada, era enfatizar na temática investigativa, com jornalistas atuando em papéis que seriam tradicionalmente de detetives e policiais. Contudo, havia já a intenção de falar sobre os desafios da profissão e da crise do mercado. “Queremos mostrar uma visão mais realista e pé no chão do trabalho jornalístico, até para fugir de outras obras que romantizam o ofício”, afirma Waltrick.
Assim, a série propõe não apenas falar sobre um dos trabalhos mais difíceis dentro do jornalismo, que envolve a investigação de ilegalidades, mas também retratar como tudo isso se mistura com a vida pessoal dos profissionais. “Os jornalistas de Contracapa não estão preocupados apenas em investigar esquemas ilegais, mas também precisam encarar diariamente o risco da demissão, as cobranças absurdas por metas de audiência, a ingerência dos donos do jornal, as diferentes e controversas visões de alguns editores”, complementa.
Por incrível que pareça, a principal referência na ficção da série paranaense não é The Newsroom, da HBO, que foca nos bastidores de um canal a cabo de notícias, mas sim Mad Men. “Na época da criação da série, lá em 2017, eu mal conhecia The Newsroom, tinha visto só o episódio piloto. Mas agora estou encarando os demais episódios e, sim, tem bastante a ver. Um referência que sempre tivemos em mente é Mad Men, uma outra série que aborda os meandros de uma empresa de comunicação (no caso, uma agência de publicidade) e que dá um grande espaço para os dramas humanos dos personagens que habitam esse ambiente”, afirma Rafael Waltrick.
Retomada da produção audiovisual paranaense e brasileira
Contracapa é uma produção feita completamente em Curitiba. Muitas cenas se passam em locações conhecidas da cidade, como o Passeio Público e o bar BarBaran. Para a nova temporada, a previsão é que as filmagens também se concentrem na capital do Paraná, priorizando os atores e atrizes locais. No elenco, há nomes conhecidos da cena teatral curitibana, como Zeca Cenovicz, Tiago Luz, Michelle Pucci, Carolina Fauquemont, Hélio Barbosa, Mauro Zanatta, Rosana Stavis e Renet Lyon.
A temporada deverá ser filmada no primeiro semestre de 2024. Contracapa foi um dos projetos contemplados no Fundo Setorial do Audiovisual do Banco BRDE, obtendo o valor máximo do edital, de R$ 4,5 milhões. “O bom do Fundo é que não se trata de captação, não é um mecanismo que prevê renúncia fiscal. O FSA é um fundo de investimento, mantido com recursos da taxa Condecine, paga pelo próprio setor audiovisual, incluindo mercado publicitário. Então, quando o Fundo aprova um projeto pra contratação (como é o nosso caso), o Fundo se torna uma espécie de sócio do projeto, que vai receber ao longo dos anos todo esse investimento que está colocando no projeto”, explica Rafael Waltrick.
Essas chamadas do FSA haviam sido interrompidas nos últimos quatro anos. A expectativa agora é que elas sejam muito mais frequentes, fomentando novas iniciativas audiovisuais de qualidade como a Contracapa.
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