AMarvel e a Netflix tinham um projeto ambicioso em mãos: lançar a minissérie Os Defensores, aproveitando a onda de adaptações de HQs para a TV e o cinema. Para isso, precisavam completar as séries independentes de cada um dos personagens. Até aquele momento, mais precisamente maio de 2016, quando o roteiro de Os Defensores ficou pronto, nem Luke Cage e nem Punho de Ferro haviam ido ao ar – este último, por sinal, só teve seu protagonista definido três meses antes.
Quando finalmente foi ao ar, Punho de Ferro se mostrou um projeto descartável, mal desenvolvido, mal produzido e recheado de péssimas atuações, especialmente de seu protagonista. A melhor forma de traduzir o quão mal a série resultou é dizer que nem a Record, aquela da novela Os Mutantes, um dos maiores fiascos da teledramaturgia nacional, seria capaz de fazer algo pior.
De cara, a série tem muito pouco a dizer, especialmente se colocada lado a lado com seus pares (Demolidor, Luke Cage e Jessica Jones). Ela se propõe a contar a história da origem de Danny Rand (interpretado pelo fraquíssimo Finn Jones), mas só consegue fazer uma fusão mal-acabada de outros super-heróis. Acompanhe: quando criança, o jovem Danny, filho de um rico empresário, perde seus pais em um acidente de avião, no qual o próprio garoto estava, mas consegue se salvar, indo parar em um reino místico chamado K’un-Lun, onde ele aprende a arte do kung fu. Quinze anos depois, ele retorna a Nova Iorque com o objetivo de recuperar sua identidade, assumir a companhia de sua família e lutar contra O Tentáculo. Lembrou Batman? E o Arqueiro Verde? Pois é…
Não fossem suficientes estes detalhes, Punho de Ferro ainda foi fortemente criticada por sua falta de diversidade, já que descarta o fato do personagem ser montado sob estereótipos orientais ao optar por colocar como estrela um homem branco. Sobre isso, o ator Finn Jones chegou a comentar que concordava com a importância da diversidade no cinema e na TV, mas que sua preocupação maior era que “as pessoas estão comentando a série sem entender o quadro completo, sem entender a história”. Foi o suficiente para mais uma saraivada de críticas.
Ao mesmo tempo que o melhor que Punho de Ferro oferece são suas personagens femininas, é através delas que perpetuam um discurso estereotipado e arquetípico.
Mas afinal, elas foram infundadas ou não? Como dito anteriormente, a série tem mais falhas que acertos, que acabam passando despercebidos tamanha a quantidade de erros e fragilidades na trama. Por exemplo: se o enredo nos apresenta duas personagens femininas fortes, inteligentes, interessantes e bem desenvolvidas como Colleen Wing (Jessica Henwick) e Claire Temple (Rosario Dawson), ela também é capaz de evocar clichês deprimentes sobre a erotização feminina, como no caso da personagem que tenta seduzir o protagonista no episódio “Immortal Emerges from Cave”. Ou seja, ao mesmo tempo que o melhor que Punho de Ferro oferece são suas personagens femininas, é através delas que perpetuam um discurso estereotipado e arquetípico.
Além disso, a série não é o produto mais fraco do Universo Marvel apenas no que diz respeito à diversidade, representação e apropriação. Mais da metade dos treze episódios falha miseravelmente em coisas básicas a uma série, como saber contar uma história. A preguiça do roteiro estraga toda a experiência do espectador, ao mesmo tempo em que cria um bom estudo de caso sobre a importância de saber contar uma história – ainda mais uma com tantas camadas, como são as de super-heróis. Talvez por isso a sensação de que enfrentar os treze episódios é um martírio – e que um desavisado só o faz para entender o pano de fundo para Os Defensores, que no fim nem a isso atende.
Em suma: Punho de Ferro não parece ter nenhum interesse em trazer à luz nenhuma discussão importante, tem pouquíssima (ou nenhuma) voz própria e, bem, deixa o gosto amargo de que não precisávamos de mais uma série de super-heróis, ainda mais uma tão arrastada como esta.
A segunda temporada está prevista para ir ao ar em 2019.