Ao final de sua terceira temporada, Mister Brau, da Rede Globo, se consagra como uma das séries mais bem-sucedidas na emissora da atualidade. O capítulo exibido na última terça-feira, 18, encerrou a temporada com chave de ouro, comprovando que o programa vem evoluindo gradativamente e cumprindo, com maestria, sua missão de ser um entretenimento inteligente e que cause reflexão.
No episódio, Michele Brau, personagem de Taís Araújo, tornou-se atriz de novelas e viveu um par romântico com Filipe César, interpretado por José Loreto. A química apresentada nas cenas de amor entre seus personagens fez com que surgissem boatos da possibilidade dos dois artistas estarem tendo um caso. Brau (Lázaro Ramos) não conseguiu lidar com as novidades e isso levou o casal a uma breve separação.
O excelente texto apresentou uma série de referências ao mundo das celebridades, ironizando as notícias tendenciosas que sempre surgem na vida real sobre um possível envolvimento dos atores quando um casal demonstra química numa novela. Mas o grande destaque do capítulo foi o número final (veja aqui), no qual todo o elenco da série apareceu no cenário do programa fictício “Os Brau”, homenageando artistas e os grandes personagens negros do mundo: foi encantador, emocionante, nem um pouco piegas e passou uma importante mensagem.
De modo geral, a série consegue dialogar com um público heterogêneo de maneira perspicaz e abordando importantes assuntos sem parecer didático.
E já que falamos do programa “Os Brau”, vale destacar que esse foi um dos acertos desta temporada, pois costurou boa parte dos episódios e mostrou números musicais com artistas reais, cujas canções dialogavam com as situações do roteiro. Outro ponto positivo da temporada foi a evolução dos personagens e a simbiose dos atores que os interpretam: Lázaro Ramos, Taís Araújo, Fernanda de Freitas, George Sauma, Kiko Mascarenhas, Luís Miranda e Cláudia Missura transparecem estar à vontade na pele de seus personagens e se divertindo em cena.
De modo geral, a série consegue dialogar com um público heterogêneo de maneira perspicaz e abordando importantes assuntos sem parecer didático. A qualidade do texto imprime verdade às situações mostradas e, mesmo abusando de tiradas espertas, eleva qualquer cena clichê a outro patamar. A relevância da série pode ser vista desde a primeira temporada, fazendo comédia e, ao mesmo tempo, propondo discussões importantíssimas, principalmente quando toca no tema do racismo.
Quanto ao tema racismo, trazer o negro para o protagonismo de um programa de TV é outro acerto da série (mesmo a emissora dando esse passo com certo atraso), pois mesmo que as novelas já tenham dado espaço para eles, a presença de atores negros em papéis relevantes e de destaque ainda é muito pequena. A repercussão deste assunto levantado em Mister Brau foi tão grande que, em 2015, ano de exibição da primeira temporada, o seriado ganhou repercussão fora do país, e foi muito elogiado no jornal inglês The Guardian, que salientou essa problemática retratada no programa: Veja aqui.
O artigo apontou a série como uma importante tentativa de mudar o racismo presente na televisão nacional e discutiu o lugar do afro-descendente na teledramaturgia brasileira, mostrando como a participação negra é restrita e carregada de preconceito: 75% dos papeis destinados a atores negros no país são para personagens em posição de subserviência.
Mister Brau tem gás para ter muitas próximas temporadas. Equilibrada, ela descontrai e, ao mesmo tempo, dá voz para as diversidades brasileiras. Querida pelo público e pela crítica, é um daqueles seriados que são gostosos de assistir, possui excelentes qualidades e que prometem entrar para a história dos seriados de humor brasileiros.