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Home Literatura

‘A imensidão íntima dos carneiros’: o medo como herança distintiva

porTamlyn Ghannam
3 de setembro de 2017
em Literatura
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Marcelo Maluf - A imensidão íntima dos carneiros

Marcelo Maluf. Foto: Reprodução.

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A imensidão íntima dos carneiros é uma autoficção que retoma a história de Marcelo Maluf, neto de Assaad, libanês que deixa o Líbano e vem para o Brasil em meio à guerra contra os povos turcos, carregando consigo um episódio familiar que durante anos permaneceu oculto, sendo descoberto pelo protagonista da narrativa somente muito tempo depois. “No entanto, uma memória por muito tempo aprisionada, um dia transborda e preenche com um líquido espesso as fendas ocultas das sensações e experiências de toda a família.” Marcelo pretende, a partir da escrita, superar esse segredo e suas consequências no destino familial.

Como em toda boa narrativa autoficcional, em A imensidão íntima dos carneiros os fatos reais são atravessados pelos limites da ficção, que, nesse caso, retomam o imaginário árabe e assumem a forma de fabulações tipicamente orientais, semelhantes mesmo a Mil e uma noites, cujos elementos são, em sua maioria, calcados por uma simbologia fundamental e nas quais animais ganham vida a partir de recursos poéticos prodigiosos. A obra apoia-se sobretudo na família e em seus gestos, voluntários ou involuntários, de união. As refeições, por exemplo, momentos em que todos reúnem-se e sentam-se à mesa em conjunto, são uma espécie de sacristia, de prática religiosa insubstituível porque conciliam cada um dos membros da família em um só corpo harmônico.

A nação como traço fundador da identidade de um povo é um ponto de grande relevância na constituição dos personagens do romance de Maluf. A migração de um país para outro é uma das razões pelas quais Assaad consegue guardar com tamanho êxito o segredo que lhe atormenta. Quando deixa o Líbano e viaja para o Brasil, ele não abandona apenas sua terra natal, mas pretende, acima de tudo, afastar-se do que lá ocorreu. No entanto, certos legados são resistentes e permanecem sendo transmitidos por mais que se busque eliminá-los. O edifício genético de Marcelo Maluf é a estrutura de A imensidão íntima dos carneiros:

“Talvez tudo o que sou e vivi e li também faça parte, hoje, da minha estrutura genética. O que em tese me faria não saber identificar aquilo que recebi daquilo que, supostamente, nasceu comigo. Talvez seja assim, o edifício genético é uma obra em constante construção.”

Os carneiros aparecem na obra não só em seu sentido literal, como também figurativamente, simbolizando a mansidão e o sacrifício que guiaram os passos da família até então.

Uma vez que “o medo estava no princípio de tudo”, ele será primordial para o desenvolvimento não só da narrativa, como para toda a história da família. O medo é uma herança irrecusável para cada um dos descendentes de Assaad e se faz presente com especial efeito em Marcelo Maluf, que revive as lembranças do avô, revisita suas reminiscências, de modo a compreendê-lo melhor. O protagonista, autodenominado “descendente do medo”, precisa aprender a ultrapassá-lo para então descortinar os segredos familiares e determinar a medida em que fora influenciado por aquilo que acontecera antes de seu nascimento, anteriormente a qualquer descoberta do ocorrido por sua parte.

Como sujeito afetado pelas escolhas de seus antepassados, cabe ao narrador do romance reconhecer [highlight color=”yellow”]o peso da ancestralidade em si[/highlight], ao mesmo tempo em que assume a própria individualidade, sua fração independente. A única maneira de alcançar tal intento é superar o medo e adentrar o desconhecido que paira sobre sua família, ainda que esse movimento de autoconhecimento represente um processo doloroso.

Nesse sentido, os carneiros são indispensáveis. Eles aparecem na obra não só em seu sentido literal (uma vez que Assaad é pastor de carneiros e a carne do animal, um prato tipicamente árabe), como também figurativamente, simbolizando a mansidão e o sacrifício que guiaram os passos da família até então, especialmente os do avô, e que devem ser transpostos pela bravura e pelo individualismo, tal qual o grito do carneiro: único, insubstituível, possante; expressão mor de sua interioridade.

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“(…) o berro de um carneiro é a sua imensidão íntima, doada em forma de som para o mundo. Quando um carneiro berra, ele expressa a sua angústia, raiva, medo ou alegria. O berro de um carneiro é a maneira dele de se comunicar com Deus. O Cristo berrou: “Pai, por que me abandonaste?”.

O que Marcelo Maluf faz em A imensidão íntima dos carneiros é, justamente, [highlight color=”yellow”]expressar seu âmago[/highlight], a personalidade real de si e de sua família, através das palavras e da fabulação, tão potente e pungente quanto o lamento do carneiro a caminho do abate.

[box type=”info” align=”” class=”” width=””]A IMENSIDÃO ÍNTIMA DOS CARNEIROS | Marcelo Maluf

Editora: Reformatório;
Quanto: R$ 24,00 (150 págs.);
Lançamento: Agosto, 2016.[/box]

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Tags: A imensidão íntima dos carneirosanálise literáriaCrítica LiteráriaEditora ReformatórioLiteraTamyLiteraturaLiteratura BrasileiraMarcelo MalufResenha

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