Escrever é uma forma de ser. Gosto muito das palavras, do que elas significam por si só, mas também do que podem dizer quando alinhadas, combinadas, assumindo outros sentidos, se transfigurando ao ponto de se contradizerem. Desde sempre me serviram de tantas formas, talvez porque, muito cedo, tentei compreender o mundo e, para isso, precisava de tudo que poderiam me oferecer. Eram e continuam a ser caminhos para um mar de letras, que depois viram imagens, possibilidades sensíveis de dizer e traduzir o que se passa aqui dentro. Com palavras, somos mais potentes. E eu, de certa forma, me pacifico.
O primeiro texto que saiu dos meus dedos, talvez antes mesmo que o processasse dentro da cabeça de forma calculada, racional, falava do tempo. Não me espanta que tão cedo, ainda no antigo primário, esse tema emergisse como uma espécie de vela que me conduziria vida afora. Sou até hoje um obcecado pela memória, pelo efeito que o virar incontornável da ampulheta exerce sobre as coisas deste mundo. Vi grandes livros e filmes tornarem-se areia, canções primeiro vistas como ligeiras, banais, assumirem caráter emblemático, até se revelarem clássicos de sua época. Já disse coisas muito sérias das quais me esqueci e outras, menos importantes, que me traduziam e até hoje ecoam dentro de mim. Somos o resultado caótico desse virar dos ponteiros.
Escrever é uma forma de ser. Gosto muito das palavras, do que elas significam por si só, mas também do que podem dizer quando alinhadas, combinadas, assumindo outros sentidos, se transfigurando ao ponto de se contradizerem. Desde sempre me serviram de tantas formas, talvez porque, muito cedo, tentei compreender o mundo e, para isso, eu precisava de tudo que poderiam me oferecer.
Dizia meu texto pueril, algo entre poema e prosa poética, escrito a mão num caderno escolar, que o tempo passava e não voltava atrás, não tinha barreiras e levava tudo que a gente fazia. Rio hoje um pouco envergonhado desse meu fatalismo precoce. Talvez eu me protegesse das perdas que inevitavelmente viriam, as antecipando. Não poderia saber tão cedo que mesmo o que é levado implacavelmente deixa resquícios, fragmentos incorporados ao que somos, ainda que não nos demos conta disso.
Escrever é, muitas vezes de forma não consciente, inventariar em palavras tudo o que o oceano do tempo carrega para alto-mar, o que deixa ao longo do caminho e também o que devolve transformado, pulverizado em forma de uma areia, que pode ser aquela das ampulhetas. Também somos feitos dessa poeira.