Não à toa se ganhava um elogio de Ariano Suassuna, mais ainda a alcunha de “o melhor gravador popular do Brasil”. E o autor não estava enganado, J. Borges é o maior xilogravurista do país, responsável por talhar em madeira a alma sertaneja, oferecendo o Nordeste ao mundo.
Desde abril, estendendo-se até o próximo dia 24 de junho, o SESI Campinas conta com a exposição J. Borges – O Mestre da Xilogravura. Com curadoria de Ângelo Filizola, pernambucano, produtor de projetos culturais em diferentes linguagens, a mostra tem visitação gratuita e classificação livre.
Ela é composta de uma coletânea de 44 xilogravuras, sendo que oito delas são inéditas (com suas respectivas matrizes). O público terá oportunidade de ver as 28 obras consideradas mais importantes da carreira de J. Borges.
Nelas, o imaginário popular do Nordeste está presente nos símbolos e figuras talhadas pelo mestre, que, aos 87 anos, é Patrimônio Vivo de Pernambuco e um dos mais importantes xilógrafos do Brasil.
De Pernambuco para o mundo e de volta ao Brasil
Em sua trajetória, José Francisco Borges já foi comparado a Pablo Picasso, mas diferente do espanhol, centrou o recorte de sua arte no seu mundo.
J. Borges já levou o Nordeste para rodar o mundo. Suas obras já foram expostas na França, Alemanha, Suíça, Itália, Estados Unidos, Venezuela e Cuba. O artista também teve a oportunidade de compartilhar seus conhecimentos, ministrando aulas na França e nos Estados Unidos, onde foi destaque no jornal The New York Times.
“Estou muito alegre com essa exposição sobre meu trabalho na xilogravura”, comentou Borges. “Eu ainda quero viver bastante. O que me inspira é a vida, a continuação, é o movimento. Minha obra é aquilo que eu vejo, aquilo que sinto”, disse o xilogravurista, cuja técnica envolve o desenho direto na madeira, equilibrando cheios e vazios com destreza, sem utilizar esboços, estudos ou rascunhos.
Em sua trajetória, José Francisco Borges já foi comparado a Pablo Picasso, mas diferente do espanhol, centrou o recorte de sua arte no seu mundo. “Eu só faço trabalhos relacionados aos costumes e à vida do Nordeste porque eu considero o Brasil da Bahia para cá. É um Brasil natural, de sangue nordestino”, comentou aos risos ao jornalista Eduardo Vessoni em reportagem para o UOL.
E foi de sua vivência como vendedor de cordel em feiras do interior que J. Borges foi buscar inspiração para as paisagens que compôs em suas xilogravuras. Segundo o mestre, “a rica cultura popular nordestina tem origem na pobreza”. Mas de tanta riqueza, seu trabalho foi estampado em obras de escritores como José Saramago, Eduardo Galeano e dos Irmãos Grimm.
J. Borges: ao mestre com carinho
A exposição J. Borges – O Mestre da Xilogravura oferece aos visitantes a oportunidade de conferir diversas fases da história do artista, sendo elas identificadas pelos temas: Viagem a Trabalho e Negócios, Serviços do Campo, Plantio de Algodão, Forró Nordestino, Plantio de Cana, Feira de Caruaru, Carnaval em Pernambuco e Festa dos Apaixonados.
Mas a mostra também concede espaço à poesia popular, com uma área dedicada à literatura de cordel, colocando em cena os versos que J. Borges criou em mais de 50 anos como cordelista. Eles tratam o cotidiano do agreste e os acontecimentos político, mas também fatos lendários, folclóricos e o lado pitoresco da vida.
J. Borges – O Mestre da Xilogravura dá a dimensão da originalidade e irreverência, notáveis em suas obras, cujos temas mais recorrentes são o cotidiano da vida simples do campo, o cangaço, o amor, a religiosidade e tudo que envolve o universo cultural nordestino. A cinebiografia de Borges também faz parte da apresentação.
Nos dias 23 e 24 de junho, o xilogravurista Pablo Borges, filho e aprendiz do artista, ministrará oficinas gratuitas no SESI Campinas. As informações podem ser encontradas no site do SESI. A exposição, produzida pela Cactus Promoções e Produções, permanecerá nas galerias da instituição, seguindo para as unidades de São José do Rio Preto (30 de junho a 9 de setembro) e Itapetininga (15 de setembro a 25 de novembro).
SERVIÇO | J. Borges – O Mestre da Xilogravura
Onde: SESI Campinas Amoreiras (Av. das Amoreiras, 450 – Parque Itália | Campinas/SP);
Quando: de 14 de abril a 24 de junho; quarta a sábado, das 10h às 20h, domingos, das 10h às 19h, exceto feriados;
Quanto: Grátis.
Mais informações podem ser obtidas no site do SESI. Agendamento de grupos e escolas são feitos através do e-mail caccampinas1@sesisp.org.br.
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