Já deixei claro nessa coluna outras vezes que desenvolvi uma relação de amor e ódio com A Força do Querer, da autora Glória Perez. O último capítulo da trama foi exibido na última sexta-feira, 20, e depois de tanto falar sobre a recém-concluída novela das nove, não tinha como não fazer uma análise sobre o desfecho do folhetim.
Que a novela foi um sucesso de audiência não resta dúvidas, A Força do Querer conquistou o público e trouxe de volta os altos índices do horário nobre, que havia sofrido uma grande queda nos últimos anos. Foi praticamente impossível permanecer indiferente a ela.
E esse excelente resultado foi resultado de três fatores que trabalharam juntos e em sincronia: a habilidade da autora na condução de suas tramas; a direção original e caprichada de Rogério Gomes, Pedro Vasconcelos e equipe; e o elenco excepcional – menos o Fiuk, ator sem estofo cuja escalação foi infeliz para um personagem tão importante, resultando em muitas piadas sobre sua interpretação.
Porém, apesar do sucesso, a trama não foi unanimidade: houve muitos elogios, mas também muitas críticas. Coisa que a colunista que vos escreve fez várias vezes. Oscilei entre os dois lados durante todos esses meses em que a novela foi ao ar. Mas concluo agora minha opinião.
Apesar de muitos pontos negativos, o saldo da trama foi altamente positivo. A novela foi boa, a autora contou uma ótima história, repleta de elementos interessantes e polêmicos.
Apesar de muitos pontos negativos, o saldo da trama foi altamente positivo. A novela foi boa, a autora contou uma ótima história, repleta de elementos interessantes e polêmicos. Mas o final deixou a desejar. O último capítulo foi longo (102 minutos), eletrizante, com de soluções originais e deixou algumas boas mensagens e lições. Ainda assim, o episódio foi frustrante e difícil de entender em vários momentos, com tantos defeitos que chegou a dar raiva.
Diferente de outros enredos de sua autoria, nessa dramaturgia Glória Perez apresentou um elenco enxuto e com vários protagonistas. A autora foi hábil na condução de seus núcleos e deu espaço a quase todos, criando oportunidades para que todos se destacassem em algum momento. Mas esqueceu de finalizar muitas de suas histórias. O que aconteceu com Zu (Claudia Mello), Heleninha (Totia Meirelles), Yuri (Drico Alves), Marilda (Dandara Mariana), Mira (Maria Clara Spinelli), Dita (Karla Karenina), Cândida (Gisele Fróes), Alessia (Hylka Maria) e, principalmente, Simone (Juliana Paiva)?
A atriz Juliana Paiva é excelente, mas, apesar de uma ótima atuação contracenando com Carol Duarte (Iván/Ivana) e Lília Cabral (Silvana), a personagem não teve história própria, não tendo direito nem a um final para chamar de seu. Seu momento de maior destaque no capítulo foi quando foi feita de refém pelo agiota para o qual sua mãe Silvana devia dinheiro. Entretanto, a cena (um grande clichê por sinal) só serviu para que a personagem de Lília Cabral finalmente assumisse seu vício em jogos.
E já que entramos nesse núcleo, não podemos deixar de citar o momento em que o marido de Silvana e pai de Simone, o Eurico (Humberto Martins), descobriu que seu motorista Nonato (Silvero Pereira) era também Elis Miranda. O advogado foi um cretino preconceituoso por 172 capítulos, era de se esperar que sua reação fosse extrema e que essa desconstrução e aceitação fosse devagar e gradativa, entretanto ele reagiu numa boa a situação logo de cara e ainda virou patrocinador dos shows do artista. Difícil de acreditar.
A novela também falhou no desenvolvimento de sua única vilã assumida, a Irene. Apesar da brilhante atuação de Débora Falabella, a personagem que deveria carregar as maldades nas costas nunca explicou exatamente quais eram suas motivações para ficar com Eugênio (Dan Stulbach), por dedução parecia ser um golpe do baú que acabou se transformando em uma paixão doentia. Mas as respostas caíram no foço do elevador junto com a arquiteta.
Não vou nem entrar no mérito dos casais, já havia comentado antes que tinha sérias ressalvas com o casal Jeiza e Zeca (Paolla Oliveira e Marcos Pigossi) e também não era a maior fã de Caio e Bibi (Rodrigo Lombardi e Juliana Paes), mas nesse aspecto, sei que a autora atendeu o clamor e a vontade do público. Mas a maneira como ocorreu o desfecho dos romances não convenceu. O rompimento de Jeiza e Caio não foi bem explicado e deixou lacunas.
Heroína onipresente, a super Jeiza pareceu ser a única PM do Rio de Janeiro. Em um único capítulo ela apareceu para salvar Simone do agiota e ainda liderou a missão ao morro que acabou com a morte de Rubinho (Emílio Dantas). A policial ainda foi para Las Vegas disputar o seu tão sonhado cinturão. E foi essa a cena em que mais fiquei com raiva.
A personagem foi empoderada, independente e forte a trama inteira, mas na sua cena mais esperada, na realização do seu maior sonho, ela só conseguiu vencer a luta graças à presença do Zeca. A lutadora estava apanhando e perdendo a luta, mas ao ouvir a voz do ex-namorado recuperou suas forças, virou o jogo e venceu. E o grande momento da sua conquista foi ofuscado pela cena da reconciliação do casal.
Outro deslize grave do capítulo foi a cronologia. Ruy e Zeca viajaram para o Belém atrás de Ritinha, mas só chegaram depois que houve uma passagem de tempo. Bibi deixou a prisão relativamente rápido e não deu para entender quanto tempo Caio ficou em Israel. Como a própria autora gosta de dizer, foi preciso “voar” bastante nesta reta final para tentar entender o desenrolar dos fatos.
Mas, na minha opinião, a cena mais difícil de engolir foi a transformação de Zeca e Ruy em “irmãos”. Foram reaproximados pelo novo acidente (e idêntico) no rio e pela ajuda do mesmo índio que os socorreu quando eram crianças (que não envelheceu nem uma ruga por sinal). Entenderam a profecia e pronto, fácil assim: Ruy não foi punido por atirar em Zeca e a Justiça se esqueceu do crime.
E a sereia Ritinha (Isis Valverde), depois de fugir com o filho, Ruyzinho, acabou seduzida pela liberdade de nadar em outros mares e foi trabalhar em um parque aquático nos Estados Unidos, se tornando um sucesso internacional. Foi um final bacana, bem sacado e diferente dos das mocinhas tradicionais. Porém, ninguém explicou o processo de bigamia, ela saiu ilesa do crime e todos os demais personagens a perdoaram?
Claro que teve bons momentos, como o desfecho de Ivan/Ivana, que realizou a tão sonhada cirurgia de remoção dos seios e se entendeu com o ex-namorado Cláudio. Mas confesso que esperava mais do final da novela como um todo, fiquei um tanto quanto decepcionada. Agora, espero que aproveitando a onda de sucesso e a audiência conquistada pela antecessora, a novela Do Outro lado do Paraíso, que ocupa a faixa das nove desde segunda-feira (23) seja uma boa atração. Semana que vem o texto será uma análise da primeira semana, não perca!