Sequências de filmes que alcançam grande sucesso comercial costumam ser problemáticas. Além de as comparações serem inevitáveis, a hipótese de resultarem em meros exercícios de oportunismo nunca é de todo descartada: por que, afinal, desdobrar algo que deu tão certo, a não ser para fazer ainda mais dinheiro? Como Treinar o Seu Dragão 2, embora não seja exatamente uma exceção a essa regra, tem o grande mérito de não apenas fazer avançar a trama do original, lançado em 2010, mas de aprimorá-la.
O diretor Dean DeBlois (de Lilo & Stitch, produzido pelos Estúdios Disney), com o êxito internacional do primeiro longa-metragem baseado nos livros juvenis de Cressida Cowell, resolveu criar uma trilogia, na qual ele poderá expandir a história do herói. A julgar pela qualidade deste segundo capítulo, o terceiro e último já deve estar garantido.
Neste novo episódio, o franzino Soluço e seu dragão de estimação, Banguela, estão cinco anos mais velhos, e o protagonista, mais maduro e menos inseguro, embora todo o enredo ainda seja desenvolvido em torno de sua aparente falta de aptidão física e psicológica para o papel de herói.
A ilha viking de Berk vive agora tempos de paz, com humanos e dragões vivendo em harmonia, muito por conta dos esforços de Soluço. Tanto que o líder local, Stoico, o Imenso, decide confiar a ele, seu filho, o papel de sucessor, apesar das visíveis diferenças entre os dois.
O rapaz não se sente à vontade com a perspectiva de se tornar líder: acredita ter um espírito livre, e prefere explorar a região, descobrindo suas particularidades, sempre em companhia de Banguela. Mas a vida adulta se encarrega de se impor, o empurrando em direção de desafios dos quais não pode fugir.
A julgar pela qualidade deste segundo capítulo, o terceiro e último já deve estar garantido.
Um deles é o reencontro inesperado, e emocionalmente impactante, com a mãe, a protetora de dragões Walka (dublada por Cate Blanchett na versão original), que ele acreditava estar morta.
O outro desafio é a ameaça concreta representada por Dragon (Djimon Hounsou, de Diamante de Sangue), encantador de dragões, que os captura para formar um exército do mal. Ele, no passado, foi inimigo declarado de Stoico, quando ameaçou e matou com seus poderes quase todos os líderes vikings. Agora está de volta.
A entrada em cena de Dragon desestabiliza toda a vida de Soluço, o forçando, mais uma vez, e agora de forma mais dramática, a buscar dentro de si forças para enfrentar as adversidades. Essa batalha será dramática, e aí reside boa parte do mérito do filme, que além de suas inegáveis qualidades técnicas, é muito bem escrito, e foge de alguns clichês recorrentes em produções do gênero.
O roteiro tem a coragem de propor ao público, em grande parte infantojuvenil, temas mais adultos, como morte, aceitação das diferenças e feminismo, encarnado pela opção de Walka de, no passado, cumprir o seu destino, abrindo mão da família.
Que venha, então, o terceiro filme, em 2016.
TEXTO PUBLICADO ORIGINALMENTE NO JORNAL GAZETA DO POVO EM 20/06/2014.
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