Em 2009, a atriz britânica Natasha Richardson, mulher do astro irlandês Liam Neeson, sofreu um acidente fatal de esqui nas imediações de Montreal, no Canadá. O casal deixou dois filhos, Michael, então com 14 anos, e Daniel Jack, de 13. Neeson não voltou a se casar. O drama De Volta à Itália, escrito e dirigido pelo também inglês James D’Arcy, dialoga com essa tragédia da vida real.
Hoje aos 26 anos, Michael Richardson, que também é neto da grande Vanessa Redgrave e do cineasta Tony Richardson, adotou o sobrenome materno, tornou-se ator e estrela o filme no papel de Jack, um rapaz que é sócio da esposa, Ruth (Yolanda Kettle), em uma pequena galeria de arte em Londres. O casal está se separando e ela quer vender o negócio, mas ele não tem dinheiro para comprar a parte dela. Resta-lhe recorrer ao pai, o pintor Robert (Liam Neeson), com quem mantém uma relação distante.
Aí começam os pontos em comum entre o passado Michael e seu personagem. Jack também perdeu a mãe, que era italiana, em um acidente trágico na Toscana, onde ele e o pai possuem uma Villa, que o rapaz deseja vender para se capitalizar. Mas, para isso, ele e Robert têm de retornar à terra natal de sua mãe, e encontram a propriedade em péssimo estado de conservação. Mais do que isso: a viagem faz com que venham à tona traumas e ressentimentos do passado.
É inevitável que o roteiro de De Volta à Itália, por mais que seja uma obra de ficção, se espelhe na história de Neeson e seu filho.
Jack muito pouco se lembra da infância na Itália, e desde o acidente, seu relacionamento com Robert, um homem excêntrico, é errático. Após a perda da mulher, o pintor não soube lidar com a paternidade e preferiu enviar o filho para um internato. Sua carreira nas artes também nunca voltou a ser a mesma.
É inevitável que o roteiro de De Volta à Itália, por mais que seja uma obra de ficção, se espelhe na história de Neeson e seu filho, até onde se saiba muito próximos fora das telas. A dor da perda, compartilhada pelos atores com seus personagens, é a razão de ser da trama, um tenso e doloroso de ajuste de contas.
A direção de D’Arcy, ator que estreia na direção de um longa-metragem, não é ruim, porém não consegue imprimir ao filme a carga dramática que o enredo pede. Neeson e Richardson estão muito bem nos seus papéis, contudo a narrativa talvez leve tempo demais para colocar o dedo na ferida. Há, claro, o encantamento com a beleza da paisagem da Toscana, a reconexão de ambos com a cultura e o passado de Rafaella, mãe do rapaz, e isso confere a De Volta à Itália uma leveza meio fora de lugar, ainda que agradável.
É quando Michael confronta Robert e lhe cobra por que fala tão pouco de Rafaella, de seu passado com a mãe e das circunstâncias de sua morte, que o filme consegue decolar, dando aos dois atores, pai e filho, a oportunidade de brilhar. Não deve ter sido exatamente fácil revisitar esses territórios de dor e luto, e é admirável que Neeson e Richardson tenham encarado o desafio.
De Volta à Itália fez parte da programação do Festival do Rio e pode ser visto no canal de streaming Telecine Play.