Para entender por que Missão Madrinha de Casamento é uma espécie de clássico informal (sobretudo entre as mulheres), basta acompanhar a cena inicial. Nela, vemos uma bela mulher loira (Kristen Wiig) tendo uma fogosa noite de sexo com um gostosão (Jon Hamm, de Mad Men). Ela acaba dormindo na casa dele e, de manhã bem cedo, levanta para retocar o cabelo e a maquiagem. A intenção é que, quando ele acordar, pense que ela é assim naturalmente. Mesmo assim, o homem, sem muita sutileza, a toca de sua cama.
É muito fácil se identificar com essa comédia despretensiosa de 2011, que se apresenta como um equivalente feminino aos tantos filmes sobre amizade masculina que pipocaram entre os anos 1980 a 2000 – vide, por exemplo, as sequências de Porky’s, os vários American Pie e mesmo os Se Beber, Não Case. Também tem algo que remete aos longas de Judd Apatow (não por acaso, produtor desta obra) E quando se faz a comparação, é porque Missão Madrinha de Casamento arrisca uma abordagem que até hoje é algo ousada: a de falar de mulheres num tom escrachado e mesmo escatológico.
Escrito por Anne Mumolo e a própria Kirsten Wiig (que vive a protagonista, Annie), o filme nos convida a acompanhar a história de uma mulher que contempla o puro fracasso. Annie investiu todo o seu dinheiro no seu sonho, abrindo uma confeitaria ao lado do namorado. Mas o empreendimento faliu e o namorado a abandonou. Agora divide um apartamento com dois irmãos estranhos e só conseguiu um emprego no mínimo irônico: ela vende alianças para casas apaixonados numa joalheria.
Annie está mais por baixo do que a barriga de uma cobra. Mas, como diz o ditado, nada é tão ruim que não possa piorar: quando sua melhor amiga, Lillian (Maya Rudolph), conta que foi pedida em casamento, ela sente que está prestes a perder a sua única aliada neste mundo.
Mas ainda assim o buraco é mais embaixo. Na festa de noivado, Annie descobre que há uma outra amiga, Helen, uma ricaça perfeitinha e irritante (papel de Rose Byrne, a estrela de Physical), que está cada vez mais próxima de Lillian. O mundo segue desmoronando na sua cabeça e Annie não parece ter as melhores ferramentas para lidar com isso.
Um elenco estelar de comediantes
https://www.youtube.com/watch?v=NrVCecsY8_4
Mesmo se entregando o tempo todo ao deboche, o longa-metragem ainda encontra espaço para trazer algumas cenas sublimes que falam sobre a amizade feminina.
A partir daí, o humor de Missão Madrinha de Casamento vai se desdobrando em uma coleção de cenas hilárias e personagens marcantes, vividas por atrizes que depois se tornariam grandes nomes da comédia. Entre elas, está Ellie Kemper (a tresloucada protagonista de Unbreakable Kimmy Schmidt), que faz uma recém casada que parece ter cheirado meia; Wendi McLendon-Cove, que interpreta uma mulher mais velha que não vê a hora de escapar de casa e das porquices dos filhos adolescentes (“há sêmen para todo lado”, reclama a mãe, dando uma pista de até onde o roteiro é capaz de ir); e a sensacional Melissa McCarthy, a ponta mais cômica dessa comédia que já é bastante engraçada por si só.
Todas elas foram escolhidas para serem as damas de honra da noiva, mas interferem, cada uma à sua maneira, na trama tensa que vai se desenvolvendo no triângulo “amoroso” formado entre Annie, Lillian e Helen. As situações em que elas vão se metendo envolvem, literalmente, momentos escatológicos, que jamais imaginaríamos antes ver em um filme que mistura mulheres e casamentos. Talvez a mais memorável delas seja o resultado de uma comilança proposta por Annie em um restaurante de procedência duvidosa (na verdade, é uma churrascaria brasileira). Para se ter uma ideia, a cena chega a mostrar uma mulher de vestido de noiva defecando no meio da rua.
E, mesmo se entregando o tempo todo ao deboche, o longa-metragem ainda encontra espaço para trazer algumas cenas sublimes que falam sobre a amizade feminina. Preste atenção principalmente em um diálogo espirituoso mantido entre Melissa McCarthy e Kristen Wiig, quando uma tenta tirar a outra da fossa.
Uma breve conferida em Missão Madrinha de Casamento é capaz de convencer qualquer um que ele se tornou um filme muito querido – desempenhando uma função semelhante a uma Sessão da Tarde nas plataformas de streaming – por razões muito justas. É uma história simples, até meio boba, mas entregue de uma forma absolutamente ridícula (ainda que também adorável) pelas excelentes atrizes que toparam se meter nesta empreitada.