A cineasta paulista Carolina Markowicz, impulsionada pela boa recepção de seu primeiro longa-metragem, o ótimo Carvão, traz agora Pedágio para as telas, filme que recebeu elogios em mostras de renome como San Sebastián, Toronto e o Festival do Rio, no qual recebeu vários prêmios. A trama gira em torno de Suellen, uma cobradora de pedágio preocupada com a possibilidade de seu filho, Tiquinho, ser gay, influenciada por vídeos nas redes sociais que o mostram maquiado e interpretando músicas de Billie Holiday e Dinah Washington.
A busca por uma “cura” antes dos 18 anos de Tiquinho coloca Suellen em apuros financeiros ao tentar um tratamento caro com um pastor evangélico português. Paralelamente, ela descobre possíveis segredos sobre seu novo parceiro, interpretado por Thomas Aquino (de Bacurau), e enfrenta dilemas envolvendo sua amiga Telma, cujos conflitos abrangem desejos pessoais, fidelidade e religiosidade.
A narrativa, repleta de temas provocativos, se movimenta entre gêneros como policial e melodrama, misturando momentos cômicos com uma crítica social aguda. Markowicz tenta pintar um retrato urgente do Brasil contemporâneo, abordando questões como preconceito contra a comunidade LGBTQIA+, influência das igrejas neopentecostais e disparidades sociais.
A narrativa, repleta de temas provocativos, se movimenta entre gêneros como policial e melodrama, misturando momentos cômicos com uma crítica social aguda.
O filme lida com a “cura gay” de forma agridoce, tentando manter a força e vivacidade do personagem de Tiquinho, mas sem evitar a armadilha da vitimização. Mesmo submetido ao tratamento, ele permanece consciente de sua identidade.
‘Pedágio’: Brasil polarizado
A escolha de Cubatão como cenário parece enriquecer a trama, contrastando a poluição histórica com a natureza e a indústria. As cenas iniciais, com planos amplos, destacam tanto a protagonista quanto a paisagem industrial.
Markowicz explora sua geografia física e social com intensidade dramática, enfatizando o impacto da urbanização na natureza. A praça de pedágio e a cabine onde Suellen trabalha emergem como espaços simbólicos, não lugares, em um Brasil polarizado, muitas vezes cruel.
Maeve Jinkings (de O Som ao Redor), premiada como melhor atriz, brilha, interpretando Suellen, e Kauan Alvarenga entrega uma atuação marcante como Tiquinho. Aline Marta Maia se destaca como Telma, mas seu papel multifacetado poderia ter sido mais explorado.
Pedágio, concebido para a experiência cinematográfica na tela grande, é uma afirmação do talento de Markowicz, oferecendo uma narrativa densa e autêntica. É um dos melhores filmes brasileiros de 2023.
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