No documentário Quem É essa Mulher?, exibido na Competitiva Brasil do festival Olhar de Cinema, a cineasta baiana Mariana Jaspe propõe uma jornada para desvendar a figura histórica de Maria Odília Teixeira, potencialmente a primeira médica negra do Brasil. A diretora coloca em destaque a historiadora Mayara, cuja missão é reconstruir, desde sua graduação na Universidade Federal da Bahia, a vida e o legado de Maria Odília, desde suas origens obscuras até sua morte, passando por sua formação, vida familiar e atuação como médica e professora universitária.
Desde o início do longa, Jaspe demonstra sua admiração pelo esforço incansável de Mayara em resgatar a relevância social de Maria Odília – esse tom algo idealizador, heroico, compromete um pouco a narrativa. As dificuldades enfrentadas pela historiadora são retratadas em detalhes, por vezes de forma exacerbada, são acompanhadas por uma trilha sonora um tom acima, que busca intensificar desnecessariamente o drama. As história de Mayara e Maria Odília já são fortes o bastante.
A direção parece depender demais das ideias de Mayara, de sua jornada em busca da incrível história de Maria Odília, que acaba um pouco refém da jovem historiadora.
É interessante o paralelo que se estabelece entre Maria Odília e Mayara – afinal, são duas mulheres pretas que, a despeito do século que as separa, enfrentam mil e um percalços para conseguirem se formar e encontrar seus lugares no mundo.
Em termos estéticos e visuais, o filme não se destaca pela originalidade ou criatividade, recorrendo principalmente a entrevistas estáticas e algumas imagens complementares. A edição, em alguns momentos, é truncada.
A direção parece depender demais das ideias de Mayara, de sua jornada em busca da incrível história de Maria Odília, que acaba um pouco refém da jovem historiadora. Só ficamos sabendo o que ela sabe, o que ela descobre.
Embora existam momentos pontuais que merecem destaque, como as intervenções do centenário filho de Odília e o paralelo final traçado entre os caminhos de Maria Odília e Mayara, Quem É essa Mulher? tem uma premissa mais potente do que seu resultado. Emocionante, sim, sem dúvida, mas bastante irregular no fim das contas.
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