Após ganhar o Oscar de melhor atriz por sua estonteante atuação em A Última Ceia, parece cada vez mais difícil para Halle Berry acertar na escolha de um papel à sua altura. Filmes como Na Companhia do Medo (2003) e Mulher-Gato (2004) foram fracassos de crítica retumbantes, o último ainda recebeu sete indicações ao Framboesa, uma “premiação” aos piores filmes do ano. Em cartaz desde ontem nos cinemas brasileiros com o suspense O Sequestro, ela mais uma vez embarca em uma obra genérica, pouco original e, certamente, nada crível.
Em O Sequestro, Berry é (além de produtora executiva) Karla, uma garçonete divorciada que faz das tripas coração para criar seu filho, Frankie (Sage Correa). Frente todas as adversidades de cuidar do filho sozinha, ela consegue estabelecer com ele uma relação amorosa, de cuidado e zelo. Isso sofre uma guinada quando, durante um passeio por um parque, Frankie é sequestrado após um pequeno descuido da mãe. A partir deste instante, todos os clichês possíveis do gênero são trazidos à tona e Karla encarna uma versão heroína e feroz para resgatar o filho.
Dispensando frases como “mexeram com a mãe errada” e com uma habilidade digna da franquia Velozes e Furiosos ao volante, a personagem de Halle Berry sobe a bordo de uma minivan e inicia uma perseguição alucinante ao veículo em que seu filho está.
Se havia algo que pudesse ser salvo já que todos trabalharam com um roteiro que não se sustenta ao longo de uma hora e meia de exibição, parece, ao fim, que o melhor ao espectador é a subida dos créditos.
Dirigido pelo espanhol Luis Prieto (de Contra o Tempo), e produzido pela própria Berry, o longa-metragem até parece, de início, interessado em capturar o espectador, criando uma identificação com ele através do uso de vídeos caseiros amadores, mostrando a relação mãe-filho. Entretanto, como se seguisse uma cartilha, O Sequestro apresenta elementos que pouco surpreendem o espectador, como se entregasse a ele de bandeja o que acontecerá na cena seguinte.
Ainda que as sequências de ação e a perseguição garantam uma dose de emoção ao filme, a distância da realidade entre o que é apresentado e o real cria uma situação que nos leva, além da incredulidade, ao tédio. É bem verdade que Prieto não teve em mãos um bom roteiro, mas mesmo o trabalho do diretor denota preguiça, recheando a tela com lugares-comuns, sequências ilógicas e personagens que entram e saem de cena a seu bel-prazer também comprometem o trabalho do espanhol. Isso sem contar a necessidade do diretor em enfatizar a todo instante o amor que a mãe sente pelo filho, como numa tentativa de tornar o que vemos na tela do cinema uma situação mais plausível.
Se havia algo que pudesse ser salvo já que todos trabalharam com um roteiro que não se sustenta ao longo de uma hora e meia de exibição, parece, ao fim, que o melhor ao espectador é a subida dos créditos. Afinal, o tempo empregado em assistir ao filme não volta mais.
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