No longa-metragem italiano Tre Piani, do cineasta Nanni Moretti, diretor de filmes importantes como Caro Diário e O Quarto do Filho, o micro é uma forma de melhor entender o marcro.
O filme, em cartaz nos cinemas, conta a história de três famílias que vivem em diferentes andares de um mesmo velho edifício de classe média alta em Roma.
Os destinos desses moradores, de diferentes gerações, se entrecruzam a partir de uma noite que parecia como outra qualquer, mas acaba sendo o ponto de partida de uma série de mudanças que demonstram, segundo o olhar de Moretti, a complexidade de uma sociedade, sim, bastante conservadora e elitista, mas, também em processo de mutações.
O filho rebelde de dois juízes (vividos pelo próprio Moretti e pela grande Margherita Buy), Andréa, interpretado pelo novato Alessandro Sperduti, atropela e mata uma pedestre ao tentar desviar uma vizinha Monica, papel da excelente Alba Rohrwacher (de Laços), que, em trabalho de parto, tentava chegar por conta própria à maternidade. Seu marido, Giorgio (Adiano Giannini, filho do astro Giancarlo Giannini), que trabalha em outra cidade e, constantemente a deixa só.
Nesse mesmo acidente, Andrea entra com o carro na sala de outro vizinho Lucio (Riccardo Scamarcio, do ótimo O Primeiro Que Disse), um pai que logo terá uma complicação legal quando sua filha de 6, 7 anos desaparece por algumas horas sob os cuidados de um vizinho idoso, que começa a apresentar os primeiros sintomas da doença de Alzheimer.
Cada um desses moradores do mesmo prédio em Roma terá sua vida alterada, em uma narrativa que se aproxima do melodrama, mas não como mero artifício.
Cada um desses moradores do mesmo prédio em Roma, enquanto os anos passam, terá sua vida alterada, em uma narrativa que se aproxima do melodrama, ou de um folhetim televisivo, mas não como mero artifício.
Em Tre Piani, baseado em um romance do israelense Eshkol Nevo, Moretti se apropria dessa estrutura, para apresentar um panorama bastante complexo da burguesia italiana contemporânea.
O edifício é uma espécie de metáfora poderosa dessas transformações: ao longo de dez anos, seus moradores sofrem grandes abalos, vários morrem, outros crescem, se transformam, e quase todos se mudam do imóvel, o deixando, por diferentes motivos para trás.
Moretti, seja em comédias, como Aprile e Caro Diário, ou em dramas, da envergadura de O Quarto do Filho, vencedor da Palma de Ouro, é um aguçado observador social. Muitas vezes irônico, e quase sempre cirúrgico, nunca é banal. Nos três andares de Tre Piani, podemos encontrar todo um universo de relações sociais e afetivas.
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