Em 2005, o seriado Surface fazia uma dramática e badalada estreia na NBC. A atração, exibida no Brasil pelo Universal Channel, aproveitava a onda de argumentos de suspense, sintetizadas por Lost, e trazia uma narrativa, dividida em 15 episódios, sobre monstros marinhos gigantes que passam a assombrar embarcações no meio do oceano. O resultado foi um fracasso de audiência, sepultado por um cancelamento prematuro. Hoje, a trama funciona bem como uma minissérie de gênero, que busca inspiração em Steven Spielberg como uma aventura de horror.
A atração acompanha a rotina de três personagens, que foram profundamente afetados pelo contato com as criaturas: Rich (Jay R. Ferguson) vê o irmão desaparecer na mandíbula de um dos monstros; Laura (Lake Bell) estava em um módulo de exploração submarina, quando foi atingida por outro; e Miles (Carter Jenkins) encontra um ovo, de onde nasce um simpático e estranho lagarto.
A premissa apresenta ecos de Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1977), em que os personagens que avistam naves extraterrestres se tornam obcecados pelo que puderam presenciar com os olhos. Troque os óvnis pelos seres marinhos e surge Surface. O suspense envolvendo os monstros também emula as estratégias de Spielberg em Tubarão (1975). Para economizar recursos, o espectador acompanha o ponto de vista do predador, seguindo a estratégia máxima do cineasta Jacques Tourneur, que mostrava sempre o mínimo possível de fantasia na tela.
A subtrama de Jenkins, que segue isolada do casal de protagonistas por quase todo arco narrativo da série, parece recriar a ambientação de E.T. – O Extraterrestre (1982). Há a conexão entre o menino e o bicho, dotado de inteligência; o fato de criá-lo escondido; e os perigos que inevitavelmente precisa enfrentar para mantê-lo a salvo. O personagem só começa a ficar interessante quando o lagartinho começa a demonstrar um instinto assassino, após vários episódios.
No hiato da primeira temporada, Surface teve os roteiros modificados para que o desfecho apresentasse explicações aos mistérios da série. Feita às pressas, essa segunda parte abraça de vez o espírito de filmes B do programa.
As referências ao nome de Spielberg acompanharam Surface em todo seu material de publicidade, apesar de o diretor não ter qualquer envolvimento direto com a produção. Em um making off presente no DVD da primeira e única temporada, os criadores da série, Jonas e Josh Pate, reafirmam a homenagem, sem esconder que também queriam brincar com os mistérios do fundo do mar.
As referências ao popular diretor de Jurassic Park (1993), porém, não foram suficientes para manter a audiência do programa. Como custava caro e era feito para uma emissora aberta e mais exigente com os números, o cancelamento foi inevitável. No primeiro hiato da série, os roteiros foram modificados para dar ritmo ao programa, que passou a apelar mais para o gênero de monstros (com direito a outras criaturas). Em um certo ponto, até um cientista louco dá as caras para acelerar as explicações para o público antes do fim.
Por conta do caos e das soluções às pressas, essa segunda parte da única temporada de Surface é bem melhor do que a primeira. Os mistérios são deixados de lado e os produtores abraçam de vez a paixão pelos filmes B. O desfecho catástrofe, que parece uma mistura de Um Dia Depois de Amanhã (2004) com Godzilla, é bastante inspirado.
Um aviso: para os mais exigentes, os efeitos visuais usados para criar os monstros podem incomodar pelo aspecto cartunesco e barato. Vá com isso em mente se quiser conferir a série.