Já fui dessas… Não saia de casa sem estar com um look calculado. Nem que fosse descuidadamente calculado. Quando era universitária, descobri a moda de uma forma enviesada. Não tinha grana e apelei para as roupas usadas importadas que chegavam ao Brasil em containers.
Comprava em grandes brechós que vendiam um pouco de tudo, roupa ruim, roupa boa, de marca, desconhecida, com estilo ou totalmente ordinárias. Era preciso despender muitas horas num garimpo sem fim.
Grande parte do meu guarda-roupa era feito desses achados. E as produções saiam dali. Como se fosse um figurino. Hoje sinto muita preguiça até de escolher entre o marrom e o preto.
O filósofo norueguês Lars Svendsen, autor de Filosofia da Moda, diz que “a moda só faz sentido para seres que estão constantemente preocupados com a sua aparência, mas jamais satisfeitos”. O fashionismo é uma busca constante, não importa se você segue a linha label (marcas), básica, brega, retrô…
‘A moda só faz sentido para seres que estão constantemente preocupados com a sua aparência, mas jamais satisfeitos’.
Muitas vezes, o fashionismo não vem acompanhado de bom senso. Olhando algumas fotos antigas fico pensando porque ninguém me impedia de usar certas coisas.
A pessoa que mais chegou perto de dizê-lo foi minha amiga Cristiana, que um dia disse que eu estava vestida de forma “estranha” e “não sabia dizer se gostava” daquele look.
Mas… fashionista que é fashionista sempre acha que “segura” tudo no visual, sem medo de cair no ridículo. Realmente eu tenho isso comigo há muito tempo.
Desde que usava camisetas da Fiorucci da minha prima com um cinto e dizia que era vestido. Oi???? Naquela época, se eu tivesse um blog seria mais pra moda freak do que pra hipster.
A idade traz coisas boas e não apenas celulite e quilos a mais. Dá uma consciência do nosso corpo, um senso de moda que tem mais a ver com autoconhecimento do que uma novidade a cada momento. Hoje, eu até acredito no armário cápsula, mas terei de evoluir muito até diminuir tanto o guarda-roupa.
Recaídas existem, principalmente numa viagem ou nas promoções. Quem nunca caiu de joelhos em uma promoção que atire a primeira pantacourt (tô falando dela porque deve ser o must have das próximas liquidações – peças que as pessoas não entendem e vão para o alçapão do esquecimento com rapidez, não antes de serem torradas, é claro!).
O consumismo está no subtexto da moda. Eu tive minha fase das sacolinhas. Não conseguia passar muitos dias sem chegar em casa com uma sacola, nem que fosse com um par de brincos. A maioria, coisas descartáveis. Às vezes deixava no porta-malas do carro e ia tirando devagar, sem que ninguém percebesse. Sim, o dinheiro era meu, mas eu sentia uma tremenda culpa.
O consumismo puro e simples tá fora de moda. O carão datou. Hoje, as pessoas que eu admiro são as que querem saber qual a origem da roupa que vestem e não se importam em pagar mais por peças feitas de forma mais ética e sustentável. Tento seguir esse caminho porque realmente acho que a gente deve se educar em relação à moda, assim como em outras questões.
Que fique claro: eu gosto de roupa nova. Só deixei de viver na prisão do fashionismo, com aquela ânsia de estar sempre na última moda, presa às tendências ou mesmo a um estilo que não permite concessões. Cedi, desencanei, relaxei.
Essa confissão não é um destrato. A moda virou uma constante na minha vida, inclusive algo que me rende trabalho. Adoro as fotos postadas nas redes sociais e as fashion youtubers. E jamais faria como a Andrea de O Diabo Veste Prada e daria todos os brindes que eu ganhei na Paris Fashion Week pra Emily (entendedores entenderão). Apenas cansei de ser fashion.
Atualmente, prefiro tomar um bom vinho a comprar uma camiseta. Escolhas. Durmamos com elas!
VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI, QUE TAL CONSIDERAR SER NOSSO APOIADOR?
Jornalismo de qualidade tem preço, mas não pode ter limitações. Diferente de outros veículos, nosso conteúdo está disponível para leitura gratuita e sem restrições. Fazemos isso porque acreditamos que a informação deva ser livre.
Para continuar a existir, Escotilha precisa do seu incentivo através de nossa campanha de financiamento via assinatura recorrente. Você pode contribuir a partir de R$ 8,00 mensais. Toda contribuição, grande ou pequena, potencializa e ajuda a manter nosso jornalismo.
Se preferir, faça uma contribuição pontual através de nosso PIX: pix@escotilha.com.br. Você pode fazer uma contribuição de qualquer valor – uma forma rápida e simples de demonstrar seu apoio ao nosso trabalho. Impulsione o trabalho de quem impulsiona a cultura. Muito obrigado.