Uma daquelas datas comemorativas que você nem imagina que existe: sim, no último dia 28 de maio foi ~comemorado~ o dia mundial do brincar. No Brasil, a programação alusiva à data foi organizada pela Aliança pela Infância, organização que atua na defesa dos direitos das crianças. A Semana Mundial do Brincar já acabou, mas o tema é pertinente.
Depois que tive filhas, pude perceber que o livre brincar é algo complexo para os adultos, tanto que já falei aqui sobre essa dificuldade. Estamos tão acostumados com a organização e os parâmetros da “civilizada vida em sociedade”. Deixar a criança brincar à toa, criando suas próprias narrativas e sem querer impor regras, é um aprendizado diário. E é complexo: a logística da vida cotidiana estabelece limites. Hora de ir para a escola, hora de comer, hora de tomar banho, hora disso e daquilo.
A proposta da Semana Mundial do Brincar é justamente deixar o relógio e as regras de lado. É deixar a criança brincar por conta própria, de preferência ao ar livre e sem eletrônicos. Sem hora, sem indicações, de acordo com as possibilidades e capacidades de cada criança. É resgatar a velha e boa “comidinha de lama”, é se sujar de areia, é correr de pés descalços por aí. Lindo, né? Lindo e saudável. E irreal, na maioria dos dias.
A proposta da Semana Mundial do Brincar é justamente deixar o relógio e as regras de lado. É deixar a criança brincar por conta própria.
Mas imagine o quanto é complicado incluir esse tipo de atividade na rotina diária. O quanto é árduo achar um lugar ao ar livre, depender do clima, não se preocupar com o relógio que, no seu infinito tic-tac nos faz lembrar a todo momento do prazo, do deadline, do compromisso… E, ainda por cima, lidar com nossas preferências. Tem pais e mães que odeiam areia, outros que não suportam ver uma peça de brinquedo perdida, aqueles que simplesmente não toleram bagunça ou quem deteste ver o filho amarrotado ou com terra debaixo das unhas.
Brincar é mesmo uma arte. Não é a toa que há livros e teorias que se debruçam sobre essa nobre atividade. Um documentário brasileiro, Tarja Branca, trata do assunto. A obra reúne especialistas, professores e artistas para falar sobre a manutenção desse “espírito lúdico”, presente nas crianças mas que não costuma permanecer no adulto.
Lidar com essas variáveis impacta na forma como a criança vai brincar. E os adultos cuidadores das crianças precisam trabalhar seus próprios fantasmas (dizem mesmo que ter filhos é se deparar com o seu passado) e proporcionar essa experiência da brincadeira. Não, esse não é um manifesto pela caixa de areia (que eu mesma detesto). Mas se não dá para fazer bolo de terra todo dia, dá pra brincar nas horas mais corriqueiras: no mercado, no banho, na hora de ir para a escola ou a caminho do próximo compromisso. É preciso incluir a brincadeira no cotidiano, na hora de escovar os dentes, na luta que é fazer a criança tomar um remédio. O brincar deixa a rotina infinitamente mais leve e o sorriso das crianças mais iluminado.
Nas horas mais difíceis, coloque o Milton Nascimento em alto e bom som para te lembrar que você já foi criança e brinque sem medo de parecer bobo: