Jorge Furtado e Chay Suede já foram destaques da coluna “Vale um Like” recentemente. O cineasta e o jovem ator estão juntos agora na adaptação para os cinemas de Rasga Coração, peça homônima de Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha, escrita e encenada pela primeira vez nos anos de 1970.
O longa-metragem, em exibição nos cinemas, promove uma reflexão mais que necessária sobre o atual momento político brasileiro. O roteiro, assinado por Furtado, Ana Luiza Azevedo e Vicente Moreno, consegue – com bastante êxito – trazer a obra do dramaturgo para 2013. Os embates entre Custódio (Marco Ricca) e o filho Luca (Chay Suede) dão o tom à produção, que é – como define o próprio diretor – um filme de atores.
A excelência das atuações realmente é um dos grandes méritos de Rasga Coração. Além de Ricca e Suede, destaca-se ainda Drica Moraes, como Nena, que é peça fundamental na composição desta família típica da classe média. Ela é a mãe e esposa dedicada que tenta – sem muito sucesso – apaziguar os ânimos em casa em meio às calorosas discussões.
Custódio e Luca representam o ativismo em diferentes gerações. Ambos, apesar das diferenças cruciais de época e ideologias, guardam em si muitas semelhanças. Se o pai é hoje um funcionário público de carreira e de certa forma anestesiado diante do mundo à sua volta, Luca – por sua vez – foge da vida adulta e das responsabilidades que ela traz.
Com um texto pulsante e com doses certas de bom humor, Rasga Coração traz à berlinda a necessidade de diálogo e de menos intolerância. Aos jovens, é um filme essencial para mergulhar em debates maiores em torno da realidade brasileira.
Em um rico conflito, Custódio, que na juventude militou ativamente contra a ditadura e tinha o apelido de Manguari Pistolão, e Luca, um jovem que depreda a escola, por exemplo, como se estivesse indo a um rolezinho no shopping com os amigos, são o reflexo da sociedade brasileira atualmente. A dualidade escancara a incapacidade de olhar o passado como forma também de entender o presente e pensar no futuro.
Com um texto pulsante e com doses certas de bom humor, Rasga Coração traz à berlinda a necessidade de diálogo e de menos intolerância. Aos jovens, é um filme essencial para mergulhar em debates maiores em torno da realidade brasileira. Ah, vale a pena lembrar que a trilha sonora é especialíssima e traz pérolas como “Movimento dos Barcos”, de Jards Macalé e Capinam.
Montagem
A montagem dinâmica de Giba Assis Brasil torna possível o encontro do hoje com o passado de Custódio, que rumina sobre sua própria história para se reencontrar. Em uma das muitas sequências fortes do longa, ele dispara ao filho: “Na vida a gente tem que se encher de problemas, não fugir deles”.
Em entrevista ao repórter Júlio Boll, do jornal Zero Hora, Jorge Furtado reforçou a necessidade da busca pelo diálogo. “A democracia tem muitos problemas, mas é a única solução possível. É como diz a frase de Winston Churchill: ‘A democracia é a pior de todas as formas de governo, excetuando-se as demais’. As demandas das gerações se renovam, a próxima geração vai ter outros problemas. O Vianinha mostra oito personagens, e todos têm razão. O filme preserva isto, de ser tolerante e aceitar, tentar entender o ponto de vista do outro, o que me parece útil neste momento de intolerância em que as pessoas não se conversam”, fala.
Com Luisa Arraes, George Sauma, João Pedro Zappa, Kiko Mascarenhas e grande elenco, Rasga Coração é roteiro obrigatório nos cinemas. Mais que um filme, é uma convocação à reflexão em tempos de tanta intolerância. Fica a dica…