Não cabe defesa ao MC Gui sobre o vídeo publicado em suas redes sociais. Como representante de uma geração do chamado funk ostentação, o artista – que também se destaca como influenciador digital – colocou em risco a própria carreira com uma “brincadeira” (como ele e seus amigos definiram) desastrosa e que traduz muito da realidade dos compartilhamentos diários no ambiente virtual.
Repleto de polêmicas em sua carreira, MC Gui, na verdade Guilherme Kaue Castanheira Alves, 21 anos, tem dificuldades agora para gerenciar a crise provocada pelo insensato registro realizado no parque da Disney nos EUA, que traz uma menina desconcertada com a filmagem e as risadas do grupo liderado pelo artista. O bullying virtual provocou o cancelamento de shows do cantor, a depreciação de produtos licenciados com seu nome e trouxe ainda ameaças graves à sua vida.
https://youtu.be/XByz9j7hsJI
Como afirmei na abertura desta coluna, nada justifica o comportamento do jovem funkeiro. Pela mobilização que provoca e pela exposição midiática, cabe ao artista um cuidado redobrado com tudo que compartilha. Fato indiscutível, diga-se de passagem…
O que me intriga é que muitas das pessoas que agora arranham a imagem do rapaz e comandam o júri popular virtual também são aquelas que – a todo instante – ajudam a viralizar memes, vídeos e outros materiais agressivos em seus perfis. Há uma hipocrisia assustadora nas redes sociais. Não me assusta nem um pouco a primeira reação de MC Gui aos comentários sobre o vídeo: “a internet tá muito chata, estou na Disney, de férias, não preciso ficar me explicando por algo que não fiz,” desabafou.
O que me intriga é que muitas das pessoas que agora arranham a imagem do rapaz e comandam o júri popular virtual também são aquelas que – a todo instante – ajudam a viralizar memes, vídeos e outros materiais agressivos em seus perfis.
Verdade seja dita, muita gente pensa como MC Gui ao postar, por exemplo, um meme com o ator Fábio Assunção – mesmo sabendo que o artista trava uma luta diária contra a dependência química. Isso sem falar nas imagens “inocentes” de anônimos, que viram piada por conta de problemas de dentição, aparência, vestuário e por aí vai.
Ambiente virtual
No perfil que mantenho no Medium, já publiquei diferentes textos sobre o comportamento no ambiente virtual. Em um deles, reforço que nunca fomos tão conectados e isolados ao mesmo tempo. Tudo se resolve em um áudio ou mensagem pelo WhatsApp. Em tempos de redes sociais, compartilhamos ilusões, mundos perfeitos e curtimos a solidão, a indiferença e o distanciamento.
Em outra publicação, lembro ainda que, escondidos atrás das telas dos computadores ou celulares, milhares de usuários jogam na rede seus preconceitos, frustrações e revelam a incapacidade de refletir antes de disseminar ideias no mínimo questionáveis — para não falar lamentáveis. Por conta disso, confesso que fico assustado ao perceber formadores de opinião que simplesmente pegaram carona nessa onda.
Por essas e outras razões, volto ao lamentável episódio com MC Gui. Fácil atacar, criticar e sentenciar, mas repetir – diariamente – comportamentos tão repugnantes quanto o protagonizado pelo artista é ainda pior. É hora de assumirmos nossas responsabilidades no ambiente virtual. Parece simples, mas na prática…