Tenho profundo pavor do culto ao “eu”. Acompanhar pessoas que creem que suas vidas sejam o mais profundo crème de la crème me causa arrepios. Obviamente, acredito que o amor próprio seja peça fundamental na difícil arte de viver. Mas o “eu”, esse caminhar perigoso pelo egocentrismo, por vezes demonstra alguém que ama a si mesmo tanto que não encontra tempo suficiente para se interessar pelos outros.
Claro que interessar-se pela vida alheia também não pode resultar em invasão de privacidade, longe de ser este o caso. Mas parece-me que temos cada vez mais dificuldade em estabelecer uma vida em equilíbrio, onde me amo o suficiente para querer compartilhar o dia a dia com o intrigante e misterioso mundo do outro.
Em contrapartida, uma vida narcísica pode, também, atestar o pouco apreço pelo mundo e pelo que ele representa, incluída a vida. Não há possibilidade de equilíbrio em uma vida que se basta a si mesmo.
Há quem defenda, com justíssimo direito, que a autosuficiência é atestado de maturidade, de força para alimentar as artérias com uma energia necessária em dias que somos cobrados por todos os lados, quase uma autoajuda, um mecanismo que garanta que estejamos sempre cercados da energia motriz mínima para estarmos vivos.
Em contrapartida, uma vida narcísica pode, também, atestar o pouco apreço pelo mundo e pelo que ele representa, incluída a vida. Não há possibilidade de equilíbrio em uma vida que se basta a si mesmo. Veja que mesmo um circuito elétrico é formado por outros elementos, dentre eles um gerador composto por polos contrários.
Em última instância, falar apenas de si tropeça na mais enfadonha e tediosa maneira de levar a vida. Vá lá que Narciso ache feio o que não é espelho, mas de perto, ninguém é normal – nem tão interessante.