Ter um nome “diferente” pode causar grandes problemas. Não, não estou me referindo a um sobrenome estrangeiro de pronúncia complicada, tampouco sobre um nome formado pela junção de outros dois (ou três!). Até porque, como goiano, me acostumei a ver lá na terrinha nomes surgirem de “homenagens” aos avós, criando curiosas e inusitadas certidões de nascimento. No meu caso, sofri por ter um nome comum. O grande X da questão é que meu nome é comum além das fronteiras de nossa terra brasilis.
É importante frisar que tenho paixão imensurável pelo meu nome. Alejandro é imponente, sonoro. Entretanto, é, para muitos brasileiros, de difícil pronúncia, quando não impronunciável. E o engraçado desta história toda é que, quando você tem um nome diferentão (caberia um meme nesse instante, eu sei), você é vários, você é tudo, menos quem você realmente é.
Já fui Alessandro, Alexandre, Alexandro; também já fui os de grafia e pronúncia completamente erradas, como Aleandro, Alerrando, Alerando, Alejado; mas, sem sombra de dúvida, o mais absurdo foi ter sido, pasmem, o Fernando. Esse eu confesso que só consigo imaginar que tenha havido uma falha imensa de comunicação entre as sílabas saindo de minha boca e o caminho até os tímpanos da moça que desta forma me identificou.
E, no meu caso, nem a ajuda da cultura pop serviu de muita coisa. Ao longo destes anos que habito a Terra, o cinema, a literatura e até a música já foram aliados, porém, sem muito sucesso. Dom Alejandro de La Vega, pai do Zorro, foi o primeiro. Não adiantou muito, a não ser para ouvir as histórias do intrépido personagem criado pelo escritor norte-americano Johnston McCulley, em 1919. Cada senhorzinho, ao ouvir meu nome, tinha um episódio para me contar. Nem assim o astuto fidalgo foi capaz de me encantar. Anos depois, o cantor espanhol Alejandro Sanz despontou no Brasil sendo tema da novela Torre de Babel (1998), da Rede Globo, com a canção “Corazón Partío”. Bem, se não serviu para que as pessoas aprendessem pronunciar meu nome (e olha que Sanz apareceu até no Domingão do Faustão), serviu para que eu ganhasse um apelido (Sanz) e que fosse obrigado a ouvir o refrão de sua canção toda vez que alguém escutasse meu nome.
E o engraçado desta história toda é que, quando você tem um nome diferentão, você é vários, você é tudo, menos quem você realmente é.
Mas, como em novela mexicana, o drama de verdade chegou quando Lady Gaga lançou The Fame Monster, seu terceiro EP. Segunda faixa daquele disco, “Alejandro” tinha ao longo da canção inúmeras novas formas para que as pessoas aprendessem meu nome. De certa maneira, isso funcionou. A impressão é que o sucesso midiático da cantora impulsionou o “aprendizado” da pronúncia de meu nome. Entretanto, em novelas mexicanas nada é tão fácil quanto parece. Me tornei o “Alejandro, Alejandro… Ale-Alejandro, Ale-Alejandro”, quando não o “Don’t call my name, don’t call my name, Alejandro”. O problema é que ela lançou outros discos, outras músicas, e com o tempo as pessoas esqueceram como é fácil pronunciar Alejandro, nem que seja com um Ale-Alejandro, Ale-Alejandro.
Tudo isso tornou viajar pela América do Sul (ou qualquer outro país de fala hispânica) uma alegria sem fim. Sem piadinhas, sem pronúncias erradas, sem “É com xis? Não? Então são dois erres?”. Em Buenos Aires e Montevidéu eu virei o João, o José, o Pedro, o Paulo. Da noite para o dia (ou ao longo de 10 noites e 11 dias), as pessoas acertavam a pronúncia e a escrita. Passei despercebido pelos bares, cafés e restaurantes dos hermanos. Dei-me conta de que Alejandro se tornou um nome démodé, coisa de gente antiga. Pelo visto, meu futuro me guarda o ostracismo, ou, pior, retornar como nome vintage da próxima geração de hipsters. Tô lascado. E olha que nem entramos na história do meu sobrenome…