Olhava para baixo em desespero, “não sei se vou conseguir”. Do outro lado da ponte, um grupo de pessoas prontas para filmar e fotografar o momento. Ao seu lado, apenas o instrutor, impaciente. Já estavam parados ali há bastante tempo.
– Acho melhor você ir pra lá também, está me deixando meio tenso.
– Pra lá onde? Meu dever, como instrutor, é ficar aqui caso algo aconteça durante o salto.
– Eu não vou conseguir pular se você ficar me olhando de perto, me sinto pressionado.
– Eu não posso deixar você sozinho aqui, cara.
– Você já conferiu os equipamentos, não tem nada errado.
– Mesmo assim.
– Eu pago mais 200 reais depois.
– Não posso.
– Eu pago em dólar!
– A voz do cliente é a voz de Deus. Vou lá do outro lado com o pessoal. Se precisar de algo, acene.
– Aceno.
O instrutor se distanciou. Ele não tinha mais nenhum tipo de pressão, até ouvir uma voz.
– Vai ou não vai?
Olhou em volta e não viu ninguém. Nem imaginava de onde teria vindo a pergunta.
– Não, né? Não vai. Imaginei.
Olhou mais uma vez e o local continuava completamente vazio. Estaria delirando?
– Não adianta me procurar, eu estou dentro da sua cabecinha de vento, meu bem. Sou sua consciência.
– Consciência?
– Sim, Pinóquio.
– Pinóquio?
– Nossa, tá faltando referência. E nem vem falar que não sabe quem é porque a história é antiga e, você, quarentão.
– Eu entendi a referência.
– Que bom que você entendeu alguma coisa, então, porque quem tá sem entender a situação sou eu. Vai ou não vai pular dessa porra?
– Pular de bungee jumping parece fácil, mas não é.
– Pular de bungee jumping parece idiota. E é.
– Respeite a minha vontade, consciência.
– Taí o problema, queridão: não é essa a sua vontade. A sua vontade é aparecer. O que você realmente queria, agora, era estar comendo amendoim japonês e assistindo Duro de Matar no conforto do sofá. Você nem gosta de nada radical.
– Não é pelos outros, é por mim. Eu estou vivendo intensamente, fazendo uma loucura.
Pular de bungee jumping parece fácil, mas não é.
Pular de bungee jumping parece idiota. E é.
– Papinho comigo não cola, trouxe o escritório inteiro pra ver. Você tá fazendo uma série de coisas pra chamar a atenção de pessoas que não ligam. E daí que as estagiárias não acham você um tiozão descolado? Você não é, mesmo, mas quem precisa ser?
– Eu não quero ser descolado, só quero fazer a vida valer a pena.
– Então para de ler texto no Medium sobre a necessidade de se fazer mochilão pela Europa e vai ser feliz do seu jeito. Vamos pra casa?
– Um filminho agora ia bem, mesmo.
– Viu? Esse é você sendo você. Pegou o espírito.
– E aqui é bem alto, eu realmente me sentiria melhor no sofá.
– Continua que tá lindo de ver.
– Mas o que vão falar de mim se eu desistir?
– Vai importar tanto quanto o que iriam falar se você fosse em frente: nada.
– É verdade.
– A mais pura verdade.
– Tudo bem, vamos embora.
– Ai, tô emocionada, quanta maturidade!
– Onde eu estava com a cabeça?
– Em tanta coisa que você nem acredita. Eu já estava ficando maluca no meio disso tudo.
Olhou para o instrutor do outro lado da ponte. Acenou.