Sentou-se calmamente no sofá.
– Meu amor.
– Fala, docinho.
– Eu vou fazer uma pergunta séria e quero que você responda com o coração.
– Pode fazer.
– Por que tem um Chewbacca em tamanho real na nossa cozinha?
– É o nosso novo bebedouro.
– Cadê o filtro de barro que a minha mãe deu?
– Guardei no armário da garagem.
– No armário? Meu bem, aquele filtro tem uma história! Ele está na minha família há gerações.
– Então. Nojento.
– Foi presente de casamento!
– E a gente passou 38 anos de paixão ao lado dele, não tá bom?
– Mas um wookie? Antônio, a gente está velho, a gente é avô. O Chewbacca?
– Nós nos casamos no ano em que o primeiro filme foi lançado. Assistimos a todos os filmes no cinema. Star Wars representa o nosso casamento, Odete.
– Star Wars não representa o nosso casamento.
– E o biquíni dourado da Princesa Leia na nossa viagem, no verão de 84?
– Como ousa jogar isso na minha cara?
– Você usou, Odete.
– Você pediu!
– E o Frederico nasceu nove meses depois. Logo, Star Wars representa o nosso casamento.
Levantou-se e colocou as duas mãos na cintura.
– Puta que pariu, Antônio, eu não quero o Chewbacca na nossa cozinha vitoriana.
– Você nunca me perguntou se eu queria uma merda de cozinha vitoriana.
– Você disse que deixaria a decoração nas minhas mãos, seu idoso rancoroso.
– Disse. Mas isso não muda o fato de você nunca ter me perguntado.
– Não me venha com desculpas pra manter aquela coisa horrorosa ali.
– A casa também é minha, a coisa horrorosa fica.
Sentou-se novamente.
– Olha pra mim.
– A palavra final já foi dada. Não finja que você não gostou.
– Eu odiei.
– Você adora o Chewie!
– Na TV. No cinema. Não na cozinha.
– Você adora o Chewie!
– Na TV. No cinema. Não na cozinha.
– Você vai se acostumar com ele.
Ficou em pé, colocou a mão na testa e fechou os olhos.
– Me fala que é só isso.
– Como assim?
– Me fala que você só comprou o bebedouro e mais nada.
– Eu só comprei o bebedouro e mais nada.
– Nada mesmo?
– Nada.
– Antônio.
– Uma luminária.
– Ela também se parece com o Chewbacca?
– É um sabre de luz.
– Cadê?
– Na parede do nosso quarto.
Saiu irritada e foi para a cozinha. Voltou.
– Como pega água?
– O quê?
– O que tem que fazer pra sair água daquele objeto demoníaco?
– Com a mente. Você precisa ter a força em você.
– Antônio!
– É só apertar o nariz dele.