Percebeu o quanto estava feliz e que, finalmente, havia chegado a hora de agradecer, fazendo uma verdadeira declaração. Com ainda mais felicidade após a constatação, passou o dia todo pensando nas belas palavras que diria ao chegar em casa e encontrá-lo. Tinham se visto algumas vezes durante aquele dia, no trabalho, mas precisava aguardar com paciência porque era só de noite que um momento mais íntimo poderia acontecer – tudo pelos bons modos, é claro.
Saiu do trabalho com pressa, subiu a rua correndo, mas parou na padaria e pediu uma balinha no caixa – só para chegar com o hálito de menta que ele adorava.
Abriu a porta e correu para o quarto, com toda aquela ansiedade na garganta. Lá estava ele, aguardando em seu devido lugar.
– Preciso conversar com você. É bem sério, mas não tem com o que se preocupar, é algo bom.
Depois de alguns segundos de total silêncio, continuou.
– Você mudou muito de uns tempos pra cá e eu cheguei a acreditar que era outra pessoa. Hoje, percebi que talvez você seja mesmo, mas que a mudança foi boa. Você se tornou alguém mais determinado, que não se deixa levar pelas idiotices que os outros falam. Isso é ótimo! O que eu estou tentando dizer é que…
“Abriu a porta e correu para o quarto, com toda aquela ansiedade na garganta.”
Uma buzinada vinda da rua, seguida de um “filho da puta, tá indo tirar o pai da forca?”, cortou todo o clima. Mas nada que uma respirada bem funda antes de continuar não resolvesse.
– Eu estou tentando dizer que eu amo você, hoje, do jeito que você é.
Aproximou-se ainda mais do espelho para beijá-lo. Não sabia ao certo se seria muito abusivo que fosse nos lábios e tentou virar. Mas o reflexo, safado que era, quis logo na boca.