Quem viveu nos anos 80 deve se lembrar de passar pelas bancas e encontrar uma fileira de exemplares da Astro Lindo, sucesso de vendas da época. Premiada internacionalmente, ela entrou para a história com suas edições mensais, que traziam o horóscopo escrito pelo próprio dono, Cláudio Sabidão. Hoje, infelizmente, tudo o que sobra da revista são as saudades, mas Sabidão continua trabalhando com a escrita, como contou para nós da Olhe nesta entrevista cheia de simpatia.
Revista Olhe – Vamos começar pela pergunta que você já deve ter respondido um milhão de vezes: qual é o seu signo?
Sabidão – Por ironia do destino, nunca pude saber de verdade. Fui adotado quando já era pré-adolescente e não tinha documento algum, então meus pais deram uma data de aniversário fictícia no momento do registro.
Revista Olhe – Tem algum palpite, baseado na sua personalidade?
Sabidão – Nenhum. Também não faço muita questão de pensar nisso.
Revista Olhe – Você continua trabalhando com escrita, correto?
Sabidão – Correto.
Revista Olhe – O que você escreve hoje em dia? Sente falta de escrever para a Astro Lindo?
Sabidão – Escrevo preços nos cartazes de um mercado de São Paulo. Não tenho saudades, gosto mais de como as coisas estão hoje em dia, tenho uma vida mais simples longe da fama.
Revista Olhe – A revista Astro Lindo ficou mundialmente conhecida por ser pioneira em publicar um mês inteiro do horóscopo de cada signo, sendo vencedora de prêmios como Diná Mommy Awards. De onde veio a ideia de lançar esse novo formato?
Sabidão – Um dia eu estava passando pelo Centro e uma cigana me abordou, perguntando se poderia ler minha mão. Eu disse “não, credo, sai pra lá, maluca.” Mas então, vi que a mulher ao meu lado aceitou e, atrás dela, se formou uma fila. Então percebi que as pessoas realmente gostavam desse negócio de saber o futuro. Encontrei um nicho. Mas já existiam revistas com essas informações na época, aí pensei no que poderia fazer como diferencial e surgiu a ideia de um horóscopo mensal completo.
Revista Olhe – Você já tinha algum conhecimento sobre astrologia?
Sabidão – Nenhum. Comecei a comprar outras revistas sobre o assunto e a ler o horóscopo diário nos jornais, tudo para entender o que o público esperava. Também conversei bastante com a minha tia, que sabia o signo de cada pessoa só pela data do aniversário – coisa que eu achava o máximo, porque exigia uma memória muito boa, e ela tinha Alzheimer.
Revista Olhe – Em 1986, a revista Faces publicou uma matéria afirmando que você havia recusado fazer uma previsão astral para a Xuxa. Isso realmente aconteceu?
Sabidão – Aconteceu, a história é verídica.
Revista Olhe – E qual foi o motivo?
Sabidão – Gostava mais da Angélica.
Revista Olhe – Você chegou a fazer uma previsão especialmente para a Angélica?
Sabidão – Não. Infelizmente, ela nunca me pediu.
Revista Olhe – Mas foram feitas diversas previsões para outras celebridades ao longo da sua carreira, não é mesmo?
Sabidão – Sim, várias. Os artistas complementavam o meu ganha-pão. Silvio Santos, Gugu, Stênio Garcia, Roberto Carlos, Tiazinha e outros famosos receberam minhas profecias.
Revista Olhe – É verdade que você nunca errou nenhuma?
Sabidão – É verdade. Inclusive, fui eu que sugeri ao Xororó pra colocar aquelas crianças para trabalhar quando ele teve problemas financeiros.
Inclusive, fui eu que sugeri ao Xororó pra colocar aquelas crianças para trabalhar quando ele teve problemas financeiros.
Revista Olhe – Sem dúvidas, você tem um dom maravilhoso.
Sabidão – Sem dúvidas, eu tenho uma puta sorte.
Revista Olhe – Você nunca revelou absolutamente nada sobre o processo de escrita das previsões de cada signo, mas disse que está disposto a contar pra gente em primeira mão como tudo funcionava.
Sabidão – Sim, hoje não tenho mais problemas com isso e vocês foram os primeiros a me procurar depois de muito tempo.
Revista Olhe – E como você captava as previsões para poder escrevê-las? Passava por consulta com um guru, tinha algum tipo de ritual que atraía as visões ou interagia com os astros por meio das cartas?
Sabidão – Deixa de besteira, muié (sic). Eu sentava na cadeira, colocava o papel na máquina e inventava tudo.