Sentou-se.
– Você deve estar se perguntando porque eu chamei você aqui.
– Na verdade…
– Tudo bem, é uma dúvida coerente.
– Mas, eu já estava aqui. Foi você que chegou do nada, sentou e…
– Sem mais delongas, eu vou falar tudo.
– Tá. Eu já imagino o que seja, mas diga, Raul.
Cruzou os braços e olhou para cima, pensando na melhor maneira de começar a conversa.
– Serei direto.
– Pode ser.
– Não está dando certo.
– Eu sei.
– Mas não é você, sou eu.
– É mesmo?
– Não, na verdade é você, a culpa é sua. Eu só quis ser legal.
– O que eu fiz?
Começou a bater os dedos, nervoso.
– Você não fez, é esse o problema. Você não fez nem o mínimo, não se esforçou. Eu não vi dedicação nenhuma da sua parte, enquanto eu dava uma chance atrás da outra.
“Não, na verdade é você, a culpa é sua. Eu só quis ser legal.”
– Talvez eu precisasse de um incentivo maior da sua parte, se é que me entende.
– Não entendo.
– Deu pra perceber. Tentei dar vários sinais, mas você é um pouco lento.
Deu um soco na mesa.
– Você não tem o direito de me tratar assim. É o fim, pode pegar suas coisas e ir embora.
– Raul, me responde uma coisa antes? Com sinceridade.
– O que?
– Tem outra pessoa?
– É claro que não!
– Fala: tem outra pessoa?
– Talvez.
– Tem outra pessoa.
– Tá bom, tem.
– Foi por isso que você se distanciou?
– Pode ser. Quando a conheci, eu percebi de cara que você não era a pessoa certa. Quis tentar por mais um tempo, mas ela era perfeita.
– É a Dona Odete?
– Sim, é ela.
– Eu já sabia. No fundo, esperava mais de você, mas sabia, desde que ela começou a curtir as suas fotos no Instagram. Imaginei que estava rolando uma conversinha por fora.
Abaixou a cabeça.
– Não é pessoal. Ela é experiente.
– É pessoal, ela é antiquada. Mas não tem problema, você tem o direito de não me querer por perto.
– Fica mais fácil sabendo que você pensa assim. Pode passar no RH para assinar a demissão, a papelada está pronta.
– Vou lá. Espero que as crianças aprendam bastante com as aulas da Dona Odete. Mas não exija muito dela, coitada, o salário que você paga é uma merda.