A mulher parou na frente da televisão com as mãos na cintura.
– Mozão, tô com desejo de pitaia.
– Quê? Que mozão? Dá licença, é pênalti!
– Nestor, presta atenção: pênaltis têm vários por aí, mas esposa grávida você tem uma só. Dá pra me ajudar?
– Ajudo, depois que acabar o jogo eu vou comprar pitanga.
– Pitaia.
– Eu compro, eu compro. Agora dá licença, por favor, minha gravidinha linda.
Saiu da frente e deitou no outro sofá.
– É uma fruta exótica.
– Você não poderia ficar com desejo de maçã? Pêra? Mamão?
– Não sou eu que controlo, mozão, é coisa do seu filho aqui dentro. Ele deve ter um paladar diferenciado.
– Mas que negócio é esse de “mozão” de repente?
– Só pra encher o seu saco enquanto você não traz minha pitaia.
– Você tem certeza que isso existe? Não é pitanga?
– Cacete, Nê, pitanga é uma coisa e pitaia é outra coisa.
– Tá bom, daqui a três minutos eu saio pra buscar sua pitaia.
Fim de jogo. Desligou a TV e pegou a chave do carro.
– É pitaia, não esquece. É vermelha.
– Fica tranquila, vou ver no Google como é.
Parou em todos os mercadinhos do bairro e nada de pitaia. Foi para o hipermercado do Centro.
– Moça, boa tarde. Por acaso, vocês vendem pitaia?
– Pitaia? Não conheço. Pitanga tem ali.
– Obrigado.
Foi até o outro lado da cidade e perguntou de mercado em mercado, mas ninguém vendia a porra da pitaia. Resolveu tentar a cidade vizinha.
– Boa tarde, moça. Eu estou há horas dirigindo, não sou nem daqui. Pelo amor do Cosmos, me dê uma boa notícia.
– Em que posso ajudá-lo, senhor?
– Vocês vendem pitaia?
– Vendemos, sim, siga por aquele corredor e vire à direita.
– Moça, você é o cara!
Correu pelo mercado sentindo a alegria da vitória. A musiquinha das Olimpíadas tocava na sua cabeça quando Nestor entrou no corredor das frutas.
Correu pelo mercado sentindo a alegria da vitória. A musiquinha das Olimpíadas tocava na sua cabeça quando Nestor entrou no corredor das frutas.
Viu, de longe, um cartaz com a palavra “pitaia” em letras garrafais, ao lado de uma senhorinha carrancuda de cabelos brancos. Foi até lá.
– Senhora, esse lugar vazio é onde ficavam as pitaias?
– Sim.
– E isso na sua mão eram as últimas?
– Sim.
– Você pode dividir comigo?
– Não.
Colocou as duas mãos na nuca, com raiva.
– Senhora, veja bem…
– Eu gosto de pitaia.
– Mas você tem várias, se você me der duas ainda vai ter muitas.
– Eu gosto de todas.
– Uma.
– Quero todas.
– Senhora, eu imploro. Minha esposa está com desejo, ela tá grávida.
– Problema dela.
– Senhora! Eu passei horas dirigindo pra encontrar um lugar que vendesse esse negócio, fui em todos os mercados da minha cidade, vim parar em outra cidade só por causa disso.
– Problema seu.
– Por favor! Eu pago por elas!
– Não.
– Você vai deixar triste a mulher que está carregando o meu filho. Ela tem uma criança em seu ventre, é uma futura mãe em desespero.
– Não ligo.
– Senhora, se você não fosse mulher e não tivesse, sei lá, 90 anos, eu juro que jogaria um melão na sua cabeça.
A senhorinha virou as costas e saiu andando, séria. Nestor pegou o celular e ligou para a esposa, com o amargo gosto da derrota na boca.
– Alô.
– Oi, gravidinha linda.
– Tá vivo? Você saiu de casa de tarde, Nestor, assim eu não morro de desejo mas morro de preocupação.
– Tá tudo bem, meu amor. Eu só quero tirar uma dúvida.
– Fala.
– Certeza que não pode ser pitanga?