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Home Crônicas Henrique Fendrich

Ode à minha família

porHenrique Fendrich
24 de janeiro de 2018
em Henrique Fendrich
A A
ode à minha família

Foto: Reprodução.

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Understand what I’ve become
It wasn’t my design.

Não foi nada planejado, se eu tivesse pensado, se eu visse para onde as coisas estavam indo, é bem provável que até tentasse evitar. Quem é que gosta de ser tão diferente assim das pessoas que são sangue do seu sangue, carne da sua carne? Não é justamente para essas pessoas que todos nós recorremos quando nos fartamos do mundo? Não são elas aquilo que se convencionou chamar de “porto seguro”? E não são elas que nos dão forças para continuar? Pois imagine então o que vem a ser alguém que não se sente parte da sua própria família. Não, certamente eu iria evitar se estivesse ao meu alcance, se soubesse o que viria.

Para começar, eu deveria ter ido trabalhar com meu pai no escritório. Ele trabalhava em escritório, e não era o único, tinha mais gente trabalhando lá, os filhos dos outros começavam trabalhando lá, mas eu nunca quis, achava aquilo tudo meio aborrecido, e então fui fazer o que quis na vida, ou melhor, fui tentar fazer, porque não consegui quase nada, e hoje eu até aceitaria um emprego de escritório se surgisse, mas não surge. Fui fazer o que quis na vida, e saí da cidade, a cidade em que todo mundo vivia há 150 anos, fui o único que saiu, o único que não se ajeitou por lá mesmo, não arrumou emprego em fábrica de móveis e nem foi cursar administração.

Não foi nada planejado, se eu tivesse pensado, se eu visse para onde as coisas estavam indo, é bem provável que até tentasse evitar. Quem é que gosta de ser tão diferente assim das pessoas que são sangue do seu sangue, carne da sua carne?

Já então eu era o diferentão, o sujeito que fica calado nas festas de aniversário, nos almoços de final de ano, aquele que alguém sempre pega no pé, diz que está falando demais, quando todo mundo sabe que mal abriu a boca. Ainda por cima, não bebia. E todo mundo bebe, pode-se falar mesmo em um tipo de culto à cerveja, e eu não bebia, e depois parei de beber refrigerante também, e era aquela dificuldade saber o que é que podiam me oferecer, perguntavam se eu comia carne, porque podia se esperar qualquer coisa de quem age de forma tão diversa do usual.

Também não casei, nunca trouxe sequer uma namorada, não apresentei ninguém, e deve ter gente achando que sou gay, não tenho conteúdo para falar de coisas domésticas, cuidados da casa e dos filhos, e nem dos carros, não tenho carro, não sei dirigir. De política muito menos que eu havia de falar, eu que tenho umas idéias tão próprias que desagradam aos dois lados do espectro político, eu que fujo sempre dos dois lados, das paixões que são comuns a todos.

Se houvesse outra pessoa da minha idade, com uma genética e uma psicologia parecida, até pode ser que fosse mais fácil, só teve a minha prima, ela é da minha idade, a gente brincava junto quando criança, mas um dia ela cresceu, virou moça antes do que eu, e ficou mais séria e se afastou. Aí eu passei sempre a procurar a prima perdida nas primas que nasciam, e só nascia prima, nenhum homem, brincava com elas quando eram bem pequenas, depois elas cresciam e percebiam que eu tinha alguma coisa estranha, que não era como os outros, e sentiam medo de mim.

E, entretanto, foram todos sempre muito bons para mim, são pessoas boas e generosas, sentem até a minha falta quando não vou a um evento, sentem a falta até do abajur que eu me tornei. Pode ser que não saibam lidar com alguém diferente, mas nem se pode culpá-los por isso, pois tampouco sei eu lidar com a minha diferença. Se eu fujo, se eu me afasto e se eu não vou, é unicamente para nos poupar desses constrangimentos. Mas saibam que eu os admiro a todos, as famílias que construíram, as carreiras que tiveram, a felicidade que demonstram, esse carinho que vem fácil entre vocês. São a família que eu gostaria de ter, e que não aproveito, por não conseguir.

Tags: Crônicadiferentefamíliaodeparentes

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