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Home Crônicas Henrique Fendrich

Quarenta e um afogados [Parte 1]

porHenrique Fendrich
4 de setembro de 2019
em Henrique Fendrich
A A
Quarenta e um afogados [Parte 1], crônica de Henrique Fendrich

Imagem: Reprodução.

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Lembro-me muito bem de como foi que eu me afoguei. Foi em Aruba, uma ilha do Caribe. Assim como os demais, eu havia decidido mergulhar sem usar o colete de salva-vidas, apesar da recomendação expressa do nosso capitão. Eu estava apenas com o meu snorkel de mergulho e as nadadeiras. O barco ancorou a cerca de 200 metros da beira-mar. Assim que pulei, a força das ondas me arrastou para longe do barco. Eu tentava lutar contra as ondas, mas não demorei a perceber que era um esforço inútil e achei melhor me dirigir até um conjunto de rochas que eu podia avistar, se bem que um tanto longe. Eu ainda era jovem e sabia que tinha condições de chegar lá.

Entretanto, não foi o que se verificou, pois em pouco tempo comecei a engolir muita água e, para piorar, percebi que havia perdido uma nadadeira. O snorkel pendia sob o meu pescoço, já sem nenhuma utilidade. Eu já estava perdendo as minhas forças e tinha grande dificuldade para conseguir respirar, pois não podia manter a minha cabeça acima das águas. A última lembrança que eu tenho é a de olhar através das águas para as rochas e perceber que elas ainda estavam a uma distância incrivelmente longa.

Então aconteceu uma coisa extraordinária. De repente, foi como se eu estivesse enxergando a mim mesmo de um ponto de vista elevado, logo acima do mar. Era como se eu flutuasse e visse o meu próprio corpo ainda boiando nas águas. Lembro-me de ter visto o meu relógio refletindo o sol. Olhei para ele com mais atenção e pude ver claramente o horário, embora eu estivesse muito acima dele. Em verdade, eu podia ver não apenas as horas, mas até mesmo o mecanismo que fazia aquele relógio funcionar, isto é, as engrenagens na parte de dentro. E eu entendia exatamente para quê servia cada uma das peças, sem que, anteriormente, eu tivesse algum conhecimento sobre isso. Não sei dizer quanto tempo a experiência levou, mas depois, tão repentinamente quanto foi a minha “saída”, eu me vi novamente dentro do meu corpo e observando tudo “em primeira pessoa”.

Em pouco tempo comecei a engolir muita água e, para piorar, percebi que havia perdido uma nadadeira. O snorkel pendia sob o meu pescoço, já sem nenhuma utilidade. Eu já estava perdendo as minhas forças e tinha grande dificuldade para conseguir respirar.

Curiosamente, eu olhei então para cima, na tentativa de “me ver” flutuando, mas tudo o que eu consegui foi ser ofuscado pelo sol. Na sequência, eu comecei realmente a afundar. Enquanto eu viajava para o fundo do mar, eu percebia a sua escuridão, cada vez maior e mais dominante, mas isso não me inquietava de nenhuma maneira. Pude vislumbrar um pequeno barco de madeira afundado. Não tinha nenhuma emoção especial, era até mesmo com certa indiferença que eu me deixava conduzir para baixo.

Repentinamente, eu enxerguei outro homem se afogando. Pude sentir o seu desespero, era como se eu lesse, nos seus movimentos, o medo da morte. O homem estava tomando muita água e ofegava, na sua tentativa de voltar à superfície. Mas houve um momento em que não conseguiu mais e começou a afundar. Ele passou então bem em frente de mim e eu pude vê-lo melhor. A princípio, eu havia pensado que se tratava de um dos meus colegas de mergulho. Entretanto, não o reconheci como um deles e, além disso, a própria roupa dele sugeria que fosse um dos nativos da região. O homem continuou a descer até o fundo do mar, enquanto eu havia me estabilizado.

E então… ah, meu Deus, eu não podia acreditar no que estava vendo!

(continua)

Tags: afogadoContoCrônicamarmergulhadormistériomorte

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