Desconfio da pressa. Ainda que partidário assumido do arrebatamento, das vastas emoções que entram em erupção sem aviso prévio, defendo a paciência e um certo recato, artigo escasso em tempos fluídos, em que tudo tende a ser para ontem. Prefiro que a beleza ecoe, reverbere, e se incorpore à minha paisagem.
Quando se aprende a driblar a ansiedade, e percebemos os movimentos do desejo de viver à toda velocidade, neles identificando o tanto de real necessidade guardam em suas reentrâncias sedutoras, é possível sorver cada instante com maior plenitude, em detalhes. O êxtase entranha na pele, e na memória. Assim como alguém que se deita sob uma árvore, fecha os olhos, e pode saborear o vento que move as folhas, a sombra que aos poucos se desloca, o canto dos pássaros, mais próximos ou distantes, o calor que se intensifica e arrefece, porque a Terra gira e dela somos habitantes, súditos fiéis.
Ainda em defesa de um mundo menos veloz, argumento que as palavras, assim como muitos outros sabores, precisam de tempo para se consolidarem, maturarem. Mesmo que a impermanência pareça uma possibilidade irrefutável, a grande beleza pode se deslocar, se alterar, transformando-se, com o girar dos ponteiros, e sem tanta pressa, em algo maior e mais profundo, mas sem se negar o movimento.
Basta que não sejamos surdos às sensações, tão subestimadas frente ao império dos sentimentos, considerados mais nobres, elevados, mas que podem se tornar senhores implacáveis, quando não expostos à possibilidade de ganharem novos contornos.
Basta que não sejamos surdos às sensações, tão subestimadas frente ao império dos sentimentos, considerados mais nobres, elevados, mas que podem se tornar senhores implacáveis, quando não expostos à possibilidade de ganharem novos contornos. Sentimentos viram pedras quando não se alimentam de sensações, que nos dão asas aos pés.
Sem pressa, e apostando que o presente sempre nos reserva surpresas quando pensamos menos no futuro, olho para o horizonte. E vejo uma Lua Nova, que muda segundo a segundo, ganhando com o passar dos dias outras formas, mas sempre retorna a essa fase cheia de promessas, como a própria vida. Percebo que é impossível contemplar a paisagem se andamos rápido demais. E suspiro, feliz.