A intolerância é uma espécie de escudo, atrás do qual se esconde quem tem medo das diferenças que talvez revelem a fragilidade de suas crenças, muitas vezes impostas, engolidas a seco. Quem não aceita o outro, provavelmente, não se conhece muito bem, e talvez inseguro em suas certezas monolíticas, parte para o ataque. Como se o diferente o anulasse, invalidasse sua existência, ou o poder que acredita ter. O problema é que hoje vivemos tempos nos quais, talvez devido à descrença nas ideologias disponíveis, muitos se apegam de tal forma a valores que acabam simplificando demais o mundo, o dividindo em grupos estanques: aliados ou inimigos. Essa postura é de uma regressão assustadora, uma espécie de processo gradual de descivilização, no qual a melhor arma se tornou o dedo apontado na cara, a demolição física, moral ou emocional do outro.
Parece que a vida real se tornou um enredo de videogame, em que a forma mais fácil de lidar com a diferença é a eliminação implacável dos obstáculos pela força bruta. Que pode tomar a forma de ofensas semi anônimas nas redes sociais, mas também de socos e pontapés covardes, desferidos na calada da noite.
Esses atos de violência visam não apenas a agredir, machucar fisicamente a vítima, mas fazê-la duvidar da legitimidade de sua existência, seja por conta da cor da sua pele, da orientação sexual ou da religião que segue. Tentam simplesmente enfraquecer, senão simplesmente banir, o que desafia o que julgam ser a norma.
Quem não aceita o outro, provavelmente, não se conhece muito bem, e talvez inseguro em suas certezas monolíticas, parte para o ataque.
Aceitar as diferenças pode, sim, ser bastante desafiador, porque demanda empatia, capacidade de se colocar no lugar do outro, além, é claro, de boas doses de inteligência e generosidade. Por motivos meio óbvios, muitos optam por viver entre iguais, que compartilham os mesmos códigos comportamentais, quase sempre pouco questionados, alimentados pela ignorância e pelo receio da inadequação e consequente rejeição.
Precisamos estar muito alertas para o que anda ocorrendo com cada vez mais frequência ao nosso redor. As cores do arco-íris podem nos inspirar a trilhar um caminho mais igualitário e justo, colorido até, mas convém não baixar a guarda. O perigo está à espreita.
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A arte que ilustra esta crônica pertence a Henrique de França e foi utilizada com autorização do mesmo. Confira mais trabalhos do artista em henriquedefranca.com