Não é fácil traduzir em palavras a sensação que emerge quando, em uma exposição, nos vemos diante de uma obra de arte que nos convida ao mergulho, à transcendência. Algo no traço, na pincelada do artista. A sensação desencadeada por uma textura que se percebe com sutileza na tela. A combinação de cores sobre nossa subjetividade. Enfim, é notável o impacto que uma imagem, nunca antes vista, pode ter em nossos sentidos nesse precioso instante de encontro estético. Breve e absoluto.
Desejo. Foi o que senti diante da tela “Montserrat, Bahia”, óleo sobre tela pintado em 1956 pelo artista ítalo-brasileiro José Pancetti (1902-1956). O pequeno quadro, de apenas 19 x 27 centímetros, atualmente em exposição no Museu Oscar Niemeyer (MON), dentro da mostra Arte Moderna, com obras da Coleção Edson Queiroz, é aparentemente simples: uma praia, vista a uma certa distância, talvez do alto de um morro. No verde intenso de um mar aparentemente sereno, que se funde com sutileza ao céu profundamente azul, veem-se ilhotas, cercadas por ondas suaves, espumantes. Na areia, um singelo guarda-sol inclinado, e alguns poucos banhistas, vistos à distância.
Diante da tela, fui invadido por uma sensação intensa, e profunda, de felicidade. Percebi em mim o desejo de tê-la perto de mim por mais tempo. Fantasiei guardá-la na parede do quarto do dormir, para poder olhá-la da cama, como a materialização da ideia de um paraíso possível. Ao alcance dos meus olhos, como convite ao mergulho, à transcendência.
Diante da tela, fui invadido por uma sensação intensa, e profunda, de felicidade. Percebi em mim o desejo de tê-la perto de mim por mais tempo. Fantasiei guardá-la na parede do quarto do dormir, para poder olhá-la da cama, como a materialização de uma ideia de um paraíso possível.
Em meio a tantas obras, de grandes nomes do modernismo brasileiro, como Emiliano Di Cavalcanti, Cândido Portinari, Anita Malfatti e Cícero Dias, muitas delas extraordinárias por diferentes motivos, esse quadro foi capaz de me sequestrar, por talvez me transportar para uma paisagem onde gostaria de estar naquele exato instante. E, também, pela intensidade serena de uma imagem que coincidia com meu estado de alma naquele momento.
Se não posso ter essa tela em uma de minhas paredes, concretizando meu desejo mais urgente, mantê-la pendurada na minha memória afetiva, ao dispor de um olhar que vem lá do fundo, que deseja estar entre os banhistas nas areias daquela praia de Pancetti, é o incrível milagre da arte. O encontro marcado com a grande beleza de viver o que se deseja.