Hoje. Agora. Neste instante. Recorte o tempo presente com uma tesoura, do jeito que fazia quando era criança, e coloque o que estiver vivendo, bom ou ruim, em um lugar seguro, bem guardado. Mas não precisa ser a sete chaves, como se fosse um segredo. A ideia não é de apego, e sim de apreço com a memória. Preservar o que vai ajudar você, lá na frente, quando os fatos começarem a se embaralhar na sua cabeça, a compreender o caminho percorrido, a se reconhecer no escuro.
Se eu tivesse tempo, e disposição, escreveria cartas diárias endereçadas a mim mesmo. Algumas seriam pedidos de desculpas, outras verdadeiros insultos ou declarações de amor. Também poderiam ser apenas bilhetes curtos, rabiscados quando eu estivesse apressado. Neles, faria questão de registrar, mesmo sob a forma de palavras esparsas, desconexas, estados de alma, percepções, experiências, para que não se perdessem na poeira dos dias e fossem varridas pelo tempo. Há quem enxergue consolo no esquecimento. Eu, não. Prefiro me lembrar. Sempre e de tudo.
Hoje. Agora. Neste instante. Recorte o tempo presente com uma tesoura, do jeito que fazia quando era criança, e coloque o que estiver vivendo, bom ou ruim, em um lugar seguro, bem guardado. Mas não precisa ser a sete chaves, como se fosse um segredo.
Como se fosse uma corda bamba entre o passado e o futuro, sobre a qual nos equilibramos, nas pontas dos pés e com a respiração suspensa, o presente, no fim das contas, é o que temos para hoje. Melhor não desperdiçá-lo, mesmo que essa travessia seja muitas vezes difícil, aterrorizante, e a vontade de recuar, ou saltar antes do tempo, reações legítimas.
Fato é que cada momento conta, mesmo aqueles que a gente gostaria de varrer para baixo do tapete, ou deletar da memória tocando uma simples tecla. Neste exato momento, estamos a digitar uma história, construir uma narrativa aparentemente desconexa que merece ser salva numa pasta com direito a back-up, porque precisamos dos fragmentos, das peças desse quebra-cabeças infinito, que nos desafia a lembrar. Para não esquecermos de nós mesmos.